O REGIME ESCOCÊS RETIFICADO
E A DOUTRINA DA MATÉRIA

Esclarecimentos sobre a distinção entre a “ordem da carne”
e a “ordem do espírito”

No último dia 26 de maio (2012), Jean-Marc Vivenza, atual porta-voz do Grande Priorado das Gálias, publicou um excelente trabalho em seu blog, com o título que usamos para esta matéria. Nele ele revela a posição doutrinária do Regime Escocês Retificado em relação à matéria e à ressurreição dos corpos gloriosos, que não apenas não possui relação alguma, como também se opõe totalmente a uma suposta ressurreição da carne. Esta questão já foi tratada amplamente em diversos artigos publicados nos Boletins Informativos do G.E.I.M.M.E., naqueles mais doutrinários e em alguns casos até teológicos:

•  Sobre algumas questões-chave da iniciação maçônica no Regime Escocês Retificado, por Diego Cerrato, Boletim Informativo nº 26, Set. de 2010.
• A concepção da matéria em Martinez de Pasqually e no Regime Escocês Retificado, por Edmond Mazet, Boletim Informativo nº 29, 30 e 31, Jun., Set. e Dezembro de 2011, respectivamente.
• A Ressurreição de Cristo, por Hans Küng, Boletim Informativo nº 29, jun. de 2011.

Pois bem, Jean-Marc Vivenza, com a sabedoria que o caracteriza nos seus desenvolvimentos, fundamenta cuidadosamente a doutrina adotada por Willermoz nos rituais e textos doutrinais da Ordem Retificada passando por uma análise de sua origem iniciática no Tratado de Martinez de Pasqually, contrastando essa doutrina com a exegese evangélica e os ensinamentos de numerosos Padres da Igreja (Gregório, o Taumaturgo; Eusébio de Cesaréia; São Jerônimo; Evágrio, o Pôntico; Gregório de Nicéia; Máximo, o Confessor; Orígenes; Clemente de Alexandria; Santo Agostinho; etc.), como alguns filósofos neoplatônicos (Jâmblico, Porfírio, Plotino, Damascio), incluindo o próprio Platão.

Suas conclusões são claras e não deixam margem para erros, assim como os textos doutrinais e rituais da Ordem Retificada: A ressurreição que a iniciação cristã aponta é uma ressurreição num corpo glorioso, espiritual e incorruptível, seguindo o modelo da ressurreição gloriosa de Cristo. A carne é chamada a desaparecer, como o resto do mundo material, porque “nem a carne nem o sangue herdarão o Reino de Deus” (1 Coríntios, 15:50). Se o homem sofreu uma morte espiritual por ocasião de sua queda, ele é chamado a ressuscitar espiritualmente para recuperar seu estado glorioso, espiritual e imortal, que é totalmente alheio ao seu corpo carnal, corruptível e temporal (consequência punitiva do seu pecado original).

A doutrina do R.E.R. é clara a este respeito, e isso é afirmado publicamente pelo garante e conservador desta Tradição, o Grande Priorado das Gálias, através deste belo e detalhado trabalho do seu porta-voz oficial, Jean-Marc Vivenza.

Agora, a importância deste trabalho não é apenas doutrinal, vai muito mais além para os Maçons Retificados da Espanha que tiveram que sofrer a traição (à Tradição e à Ordem) que o Grão-Mestre do extinto G.P.D.H., cometeu contra os princípios doutrinais que supostamente deveria representar. A tal ponto que no passado mês de Setembro de 2011 aprovou uma Constituição e um Regulamento Geral da Ordem para o G.P.D.H. incluindo na página 7 uma Profissão de Fé Cristã que inclui no seu ponto 6 uma firme crença na “ressurreição da carne”. Ou seja, o referido senhor obriga os membros do G.P.D.H. a crerem no oposto do que a Iniciação Retificada ensina e proclama em seus rituais, e mais especificamente contrária à Profissão de Fé dos C.B.C.S. onde fala expressamente da “ressurreição gloriosa de Cristo”, Profissão de Fé que ele mesmo teve que assumir como Cavaleiro. É evidente que ele traiu o depósito doutrinal da Ordem, e obrigou os poucos que o seguem a traí-lo da mesma forma, assumindo esta nova “Profissão de Fé” que ele incluiu nestes Estatutos e que é de sua autoria, exclusivamente de sua responsabilidade e totalmente alheio ao Grande Priorado das Gálias.

Aqueles que o seguiram para tentar usurpar uma legitimidade administrativa, não hesitaram em trair a legitimidade espiritual da Iniciação Cristã, e por isso hoje, depois de tornar público a reafirmação dos princípios doutrinários da Ordem neste aspecto fundamental pelo Grande Priorado das Gálias através do seu porta-voz, Jean-Marc Vivenza, deveriam estar envergonhados de terem causado tantos danos à Ordem Retificada na Espanha, de terem semeado confusão e discórdia entre os Irmãos, de ter tentado encobrir com a ignorância dos setores radicais e dos fundamentalistas católicos a verdadeira luz que supostamente deveria servir para entender e compreender aquelas verdades que só podem ser desveladas através da verdadeira Iniciação, aquela que perdura ao longo da história desde a noite dos tempos, como recordava Joseph de Maîstre nas suas Memórias ao Duque de Brumswick.

Por culpa da arrogância e da soberba deste personagem que atualmente se considera Grão-Mestre do G.P.D.H., depois que uma grande maioria dos C.B.C.S. não quis reconhecê-lo como tal e tiveram que retirar-se devido sua conduta manipuladora e perjura, e que se autoproclama como a única pessoa que conhece verdadeiramente o R.E.R. na Espanha, a Ordem está dividida, fragmentada, enfraquecida. Estes são os frutos pelos quais a história julgará o maior impostor que a Maçonaria Cristã teve no nosso país.