Sello Oração E Caridade

Respeitável Loja de São João

Oração e Caridade nº 22

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SOBRE O DESENVOLVIMENTO DAS PRANCHAS DE CADA GRAU E O TRABALHO NA LOJA DO REGIME ESCOCÊS RETIFICADO

Seria conveniente entender corretamente que sentido tem o Trabalho em uma Loja retificada. Ao tratar desse assunto, me vêm à mente as palavras de Jean-Baptiste Willermoz quando, em uma carta escrita a um candidato recém-recebido na Loja de Aprendiz, diz:

“A origem e a finalidade essencial desta Instituição são muito antigas e muito pouco conhecidas, inclusive para um grande número daqueles que carregam o título de maçom, pois na maioria das vezes, da noz se contentam apenas com a casca e poucos procuram encontrar seu fruto…”

Voltarei, antes de tudo, ao momento da fundação do nosso Regime Escocês Retificado e sua expansão pela Europa no Convento de Wilhemsbad de 1782, em cujas atas se encontra a intervenção do próprio Willermoz quando tenta definir a ciência maçônica e sua relação com outras ciências:

“…o objetivo dos emblemas, figuras e cerimônias da Maçonaria simbólica será conduzir aqueles que a estudam ao conhecimento teórico e à prática da ciência maçônica…”

Bem, exatamente, em que consiste essa Ciência Maçônica ou Ciência do Homem, tal como também foi chamada por Joseph de Maîstre? Quando iniciamos os trabalhos no Grau de Aprendiz, a instrução por perguntas e respostas nos diz:

  • P. O que é Maçonaria?
  • R. É uma escola de virtude e sabedoria, que conduz ao Templo da verdade, sob o véu dos símbolos, aqueles que a amam e a desejam.

Mas a medida que avançamos pelos sucessivos graus simbólicos, percebe-se que “a Maçonaria Fundamental tem um objetivo universal, que a moral por si só não poderia cumprir (…). Seu objetivo é esclarecer o homem sobre sua natureza, sua origem e seu destino”. (I.S.G.P.)

E é assim que, ao culminarmos a Iniciação Maçônica no 4º Grau de Mestre Escocês de Santo André, na Instrução final da cerimônia de Iniciação nos é dito:

“A Franco-Maçonaria bem meditada nos recorda continuamente e por todos os meios a nossa própria natureza essencial. Ela busca aproveitar as melhores ocasiões para nos fazer conhecer a origem do homem, seu destino primitivo, sua queda, os males que são suas consequências, e os recursos que a bondade divina oferece-nos para triunfar”.

Assim se define o verdadeiro objetivo desta Ciência Maçônica ou Ciência do homem, para o qual nos conduzem nossos emblemas, figuras e cerimônias. Para o maçom retificado, são nossos emblemas, figuras e cerimônias que representam a chave maçônica deste objetivo (desta Ciência), e não outros.

Esta Ciência, então, que não é exclusiva da Maçonaria, como Willermoz também reconhece em Wilhemsbad, está maçonicamente codificada em nossos rituais. Cabe, portanto, ao maçom decodificá-la de forma conveniente e para isso conta com um auxílio verdadeiro e eficaz: “Quando para aperfeiçoar vosso trabalho, você busca a Luz que lhe é necessária, recorda-te sempre que a encontrareis no Oriente e que só ali podereis encontrá-la.” (Encerramento dos Trabalhos no Grau de Aprendiz). De fato, iluminando nossos emblemas, figuras e textos rituais com esta Luz que está permanentemente localizada no Oriente e que não é outra senão aquela que provém da Bíblia, e mais particularmente do Novo Testamento, poderemos pouco a pouco erguer o véu dos símbolos, que vem a figurar o que nossa existência física no estado decaído estende-se sobre nosso olho espiritual, impedindo-nos não só de ver a verdade nua, mas recordar com exatidão quem somos, de onde viemos e para onde vamos.

Tudo isto enquadrado nesta metodologia própria que o caminho da iniciação maçônica nos oferece, metodologia que nos introduz num espaço-tempo sagrado onde o poder combinado do verbo, do gesto, do símbolo e da ação se constroem, tanto dentro quanto fora de nós, o Templo cujo interior a presença divina se manifesta, encarnada, fazendo morrer em nós o velho homem e nos conduzindo à ressurreição eterna, processo que resume a nossa divisa Perit ut Vivat e que nada mais é do que a imitação daquele que foi o verdadeiro modelo: Nosso Senhor Jesus Cristo.

Este processo está completo em nossos rituais simbólicos, graduado desde o Aprendiz até o Mestre Escocês de Santo André.

O Grau de Aprendiz recorda o estado primitivo do homem e sua posterior queda; o Grau de Companheiro, seu estado atual e a forma de retificar ou reparar as consequências da queda; o Grau de Mestre o orienta para seu estado futuro, ajudando-o a discernir entre o que é corruptível e perecível neste mundo e o que é incorruptível e eterno; e finalmente, o Grau de Mestre Escocês de Santo André mostra-lhe o seu glorioso destino que deve ser alcançado pelo desenvolvimento das virtudes.

Após muitos anos de trabalho, somos testemunhas de que os nossos rituais são uma fonte inesgotável de reflexão, sabedoria e instrução, de orientação e guia, de aperfeiçoamento moral e de muitas outras coisas… Não apenas pelo conteúdo intelectual que deriva de seus emblemas, figuras e instruções doutrinárias, que devidamente iluminado pela Luz do Oriente transborda o curto período que dura nossa existência física, mas também pelo método iniciático que “golpeando” nossa mente e nosso coração, desperta a visão do espírito, ativa nossa memória e amplia nossa consciência.

Tentar enxertar elementos estranhos em nossos trabalhos (Alquimia, Música, Tradição Sufi, Cabala, etc.), que por sua vez são ciências muito respeitáveis, só leva à confusão, porque inevitavelmente misturam-se linguagens diferentes abrindo-se assim a porta para a dispersão, destacando-se aqui as suas formas e aspectos superficiais, que apesar de serem aparentes, nem sempre são concordantes ou semelhantes.

De tudo o que foi dito, pode-se deduzir também que a doutrina e o método do R.E.R., ou Ciência Maçônica, não só é completamente atual ao homem de hoje, deste tempo, mas extrai o modelo arquetípico do homem na sua dimensão eterna e sagrada; passado, presente e futuro, como acabamos de ver.

Infelizmente, como disse acima, recordando novamente as palavras de Willermoz, “…mesmo para um grande número daqueles que carregam o título de maçom, (…) da noz se contentam com a casca e poucos buscam encontrar seu fruto…”

Pela nossa própria experiência e pelo que temos observado em outras Obediências que também praticam o R.E.R., toda vez que o verdadeiro espírito de nossa Ciência Maçônica se perde, acaba em um desvio que conduz, no menor dos males, a uma dispersão sem sentido, e no pior dos casos, a uma perversão contra-iniciática.

Quem de nós que prática atualmente o R.E.R. pode dizer que supera em luzes aqueles que desenharam a arquitetura ritualística e doutrinária de nosso Regime? Contentemo-nos, meus Queridos Irmãos, a vislumbrar a luz que através da Ordem nossos Mestres nos deixaram e tentaram nos transmitir.

Concluiremos esta seção resumindo a metodologia de Trabalho que costumamos aplicar em nossas Lojas Simbólicas para a elaboração de Pranchas na e para a formação dos Irmãos desta Classe, e que é uma consequência lógica dos fundamentos que acabamos de expor:

FORMA DE FAZER PRANCHAS OU APRESENTAR TRABALHOS
NAS LOJAS SIMBÓLICOS:

  • Toda Prancha ou Trabalho desenvolvido nas Lojas Simbólicas deve sempre partir do Ritual do Grau (entende-se que a Regra Maçônica para o uso das Lojas Reunidas e Retificadas de 1782 está incluída no Rito do Grau de Aprendiz). Isso quer dizer que os temas tratados são retirados do Ritual. Não se improvisa temas que sejam alheios ao Ritual.
  • Os Irmãos analisam cuidadosamente através do Ritual o significado e o desenvolvimento que o tema em questão recebe, orientado segundo a nossa doutrina, indo logo a seguir iluminá-lo com a Luz do Oriente, ou seja, complementar e expandir a simbologia ou os princípios doutrinais do Ritual através das devidas referências bíblicas, especialmente do Novo Testamento (“O Evangelho é a base de nossas obrigações…” – Regra Maçônica, Art I, II).
  • Além desta fundamentação teórica, será necessário que os Irmãos reservem o espaço necessário para que seus corações se expressem, personalizando seus argumentos de acordo com suas inspirações, porque de pouco serviria fazer um trabalho exclusivamente erudito se não houvesse um envolvimento emocional que o vivificasse e através do qual os conteúdos se integrassem na própria vivência imediata.
  • Uma vez feito e aprofundado, pode ser ampliado com outros autores (aqui não há limite desde que seja mantida a coerência com o que já foi sintetizado), sem esquecer a importância que os Padres da Igreja têm para cada maçom cristão.

Seguindo esta metodologia, partimos da Ciência Maçônica trabalhando sobre e com ela, iluminados pela Luz do Oriente, guardando-nos do “triste delírio daquele que fecha seus olhos à luz e caminha pelas densas trevas do acaso” (Regra Maçônica, Art° I, I) e do “vã sofismo que comprova a degradação do espírito humano quando se afasta de sua origem” (idem). A Luz emana desta Ciência e dali se expande através de nossas ações e dos efeitos salutares da virtude, que derivam do ensino das Máximas retiradas do Ritual, rumo às trevas exteriores. O caminho não pode ser o inverso, não podemos iluminar nossos Templos e nossa Ciência com sofismos do exterior ou através de ciências profanas ou estranhas, por mais exóticas e sedutoras que sejam. Isso porque a Ciência Maçônica é o que desperta em nós o verdadeiro sentido de nossa existência, eixo em torno do qual tudo gira para o Maçom Retificado. Poderíamos despertar esse mesmo sentido de outra forma, mas então não estaríamos fazendo Maçonaria, mas outra coisa.

O Maçom assim iluminado por sua Ciência poderá finalmente, tendo alcançado a maestria devida, “utilizar com energia e êxito todos os meios que a Providência [lhe] oferece para ser útil aos homens e saborear os encantos da beneficência” (Regra Maçônica, Preâmbulo), pois “o universo é a pátria do Maçom, e nada que tenha a ver com o homem lhe é estranho” (Regra Maçônica, Art IV, I).

Eques a Sacro Corde

[1] Se refere ao sacerdócio da Igreja Católica.