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Oração e Caridade nº 22

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Unidade espiritual entre Willermoz e Saint-Martin

Publicado pelo Diretório Nacional Retificado da França em seu perfil no facebook em 05 de janeiro de 2013.

UNIDADE ESPIRITUAL ENTRE WILLERMOZ E SAINT-MARTIN

A relação entre Louis Claude de Saint-Martin e Jean-Baptiste Willermoz é um tema fascinante devido à extraordinária riqueza de ambos os personagens.

Saint-Martin instala-se junto com Willermoz na casa que ocupava a família Bertrand, em Brotteaux, durante sua chegada a Lyon em setembro de 1773. Viveu ali durante sua estada em Lyon, no período em que foram realizadas as Lições de Lyon para os Élus Coën (1774-1776). Saint-Martin relata as condições de sua hospedagem nesta casa, enquanto trabalhava em seu primeiro livro, “Dos erros e da verdade”: “Escrevi as primeiras trinta páginas que mostrei ao círculo que instruía para o Sr. Willermoz, e me comprometeram para continuar…” (Retrato, 165).

Pode-se imaginar a atmosfera que devia reinar em Lyon naquela época…

Além das diferenças entre as duas personalidades (não podemos esquecer que Saint-Martin é mais jovem que Willermoz e o respeito pelos mais velhos fazia muito sentido no século XVIII), um forte vínculo será estabelecido entre Saint-Martin e a irmã de Willermoz, a Sra. Povensal, que Saint-Martin designava sob o nome de “Mãezinha”, o que indica seu respeitoso relacionamento com ela. Havia também uma estreita relação entre Saint-Martin e Antoine Willermoz, irmão de Jean-Baptiste, com quem visitou a Itália em julho de 1774, encontrando-se com os irmãos italianos instruídos nas práticas martinezistas.

As diferenças entre Saint-Martin e Willermoz estavam relacionadas à questões de uma “base estrutural” para uma via com orientação interior, e não na essência da questão em si (ambos se afastaram da teurgia, distanciando-se de seus métodos, por razões aparentemente diferentes – Saint-Martin parece ter se beneficiado mais da gratificação da “La Chose” durante as operações), pensando ambos de forma relativamente semelhante, ou talvez idêntica, no plano teórico que contém uma verdade central que lhes parecia muito evidente após o desaparecimento de Martínez:

O segredo do verdadeiro culto, transmitido de geração em geração – culto que era o objetivo dos trabalhos Coën -, desenvolve-se na prática do entendimento que existe hoje, depois da vinda de Cristo, entre “verdade” e “revelação” do Espírito, pelo qual, para aquele que já foi iniciado no autêntico mistério, a ciência divina não é outra senão o próprio conhecimento íntimo e interior de Deus, conhecimento que é, ao mesmo tempo e no mesmo ato, a teoria do verdadeiro culto e a prática de sua celebração.

Tal é a chave explicativa da inutilidade, em última análise, das práticas externas, pois quando alguém se aproxima autenticamente do conhecimento íntimo de Deus através do coração do homem, este conhecimento é revelado como sendo ao mesmo tempo uma revelação da ciência secreta e uma celebração do culto divino, pois, depois de Cristo, é “em espírito e em verdade” que Deus deve ser adorado (João, 4:24); e esta indicação do Divino Reparador no evangelho deve ser levada muito a sério no nível iniciático e espiritual.

Além do mais, de fato, Willermoz possuía maior afinidade ao sistema maçônico para garantir a estabilidade e a preservação do depósito doutrinal, visando proporcionar às almas de desejo uma via segura para a verdade, dadas as condições do mundo e dos próprios homens.

Portanto, é verdade que Willermoz declarou que uma “estrutura” é necessária na situação atual. Saint-Martin, pelo contrário, considera que um sistema (estrutura) é, na melhor das hipóteses, uma concessão à fraqueza humana, e, na pior, algo inútil, restritivo, além de um impedimento para a realização da “grande Obra”. Em uma carta de 1783, Saint-Martin expõe sinceramente a natureza de suas queixas a Willermoz, declarando-lhe com inusitada franqueza que a origem do erro é tentar “…centrar o espírito em códigos e escolas. Tal era o defeito de nosso saudoso Mestre [Martínez], assim como de todos nós, seus discípulos. Me retiro completamente a ponto de abjurar hoje de todas as ordenanças nas quais apresenta-se o homem e afasta-se Deus” (Saint-Martin, carta para Willermoz, de 10 de fevereiro de 1783).

Sem dúvida, é coerente considerar que não se encontra nenhuma contradição essencial entre as duas abordagens de Willermoz e Saint-Martin, sendo ambos identicamente fundamentados sobre o “culto ao espírito”.

Simplesmente tem-se que considerar que nem todas as almas são chamadas a subir a montanha sagrada da mesma forma, e provavelmente na mesma rapidez… sem nunca esquecer que todos, pela graça, já estão no seio da Verdade.