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Oração e Caridade nº 22

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União das Igrejas

Memória dirigida por Joseph de Maîstre ao Duque Ferdinand de Brunswick-Lunebourg, Grão-Mestre da Maçonaria Escocesa da Estrita Observância, durante a ocasião do Convento de Wilhemsbad de 1782.

DA UNIÃO DAS IGREJAS – Por Joseph de Maîstre

O outro propósito do 2º grau ou da 2ª Classe (Ordem Interior dos C.B.C.S.) no sistema proposto seria: a reunião das diferentes seitas cristãs. Já é tempo, meu senhor, de apagar a vergonha da Europa e do espírito humano. Do que nos serve possuir uma religião divina, enquanto rasgamos a veste sem costuras, e quando os adoradores de Cristo, divididos pela interpretação de sua Lei Santa, se deixam levar ao excesso que fariam ruborizar os povos da Ásia. O maometismo conhece apenas duas seitas; o cristianismo tem trinta, e como se estivéssemos destinados a desonra devido os excessos opostos, após havermos nos massacrado por razões dogmáticas, caímos, em tudo o que concerne à religião, na estúpida indiferença que chamamos tolerância. O gênero humano está degradado. A terra divorciou-se do céu. Nossos supostos sábios, ridiculamente orgulhosos por algumas descobertas infantis, dissertam a respeito do ar fixo, volatizam o diamante, ensinam às plantas o quanto devem durar, espantam-se diante de uma pequena petrificação ou com o canto de um inseto, etc. Mas cuidam para não perguntar-se uma única vez em suas vidas, o que eles são e qual o seu lugar no universo.

O curvoe ad terras animoe et coelestium inanes! [1]

Tudo é importante para eles, exceto a única coisa que realmente importa. Levados por um fanatismo mil vezes mais condenável que aquele contra a qual não param de gritar, atacam indistintamente tanto a verdade quanto o erro, e só sabem atacar a superstição por meio do ceticismo. Imprudentes! Que creem-se chamados a segar o campo das opiniões humanas e arrancar o trigo pelo medo de que o joio lhes escape. Curam nossos preconceitos, dizem… Sim, como a gangrena cura a dor.

Neste estado das coisas, não seria digno de nós, meu senhor, propor o avanço do Cristianismo como um dos objetivos de nossa Ordem? Este projeto teria duas partes, já que é preciso que cada comunhão trabalhe por si mesma e trabalhe para aproximar-se das demais. Sem dúvida que este empreendimento parecerá quimérico para muitos Irmãos: mas porque não tentamos o que dois teólogos (Bossuet e Molanus) tentaram no século passado com alguma esperança de sucesso? O momento é muito mais favorável, já que os sistemas envenenados de nosso século produzirem um bem que os espíritos, um pouco mais indiferentes à controvérsia, podem aproximar-se sem conflito. Atualmente é preciso ser versado em história para saber o que é o Anticristo e a Prostituta da Babilônia. Os teólogos já não dissertam sobre os chifres da Besta. Todas estas injúrias apocalípticas seriam hoje mau recebidas. Cada coisa leva seu nome. Roma inclusive se chama Roma, e o Papa, Pio VI.

Rogo encarecidamente a V. A. S., observar que esta reunião jamais acontecerá se for tratada publicamente. A religião já não deve ser considerada em nossos dias como uma peça da política de cada estado, e esta política é de um temperamento irritável! Quando é tocada com a ponta dos dedos, ela convulsiona. O orgulho teológico fará nascer novos obstáculos de tal forma que esta grande tentativa só pode ser preparada secretamente. Deve-se estabelecer comitês de correspondência compostos sobre tudo por clérigos das diferentes comunhões que teremos agregado e iniciado. Trabalharemos devagar, mas com segurança. Não empreenderemos nenhuma conquista que não seja apropriada para aperfeiçoar a Grande Obra. Teremos que ter muito cuidado para não acender o pavio antes de ter certeza do efeito: e como, seguindo a expressão enérgica de um antigo Padre, o universo foi, em outro tempo, surpreendido por encontrar-se ariano, será necessário conseguir que os cristãos modernos sejam surpreendidos ao encontrarem-se reunidos.

Não há dúvidas de que a obra deva começar pelos católicos e pelos luteranos de Augsburgo, cujos símbolos não diferem prodigiosamente. Enquanto aos calvinistas, se possuem boa fé, deverão reconhecer que desfiguraram estranhamente o cristianismo. Sendo assim, serão eles que devem sacrificar-se.

Tudo que possa contribuir para o avanço da religião, para a extirpação das opiniões perigosas, em uma palavra, para elevar ao trono da verdade sobre as ruínas da superstição e do pirronismo, será de competência desta classe; o que supõe necessariamente que a profissão da fé requerida neste 2º grau deve ser mais ampla que a primeira. Nenhum Irmão deve, portanto, ser admitido sem reconhecer claramente a divindade de Cristo e a verdade da revelação que se segue.

[1] “Oh almas inclinadas para a terra e despreocupadas com as coisas celestiais!” – Perse.