Sello Oração E Caridade

Respeitável Loja de São João

Oração e Caridade nº 22

BLOG

Phaleg

Tradução:
BAI Aurélio Prosdócimo

O reino de Deus

O reino de Deus é constituído unicamente por bons espíritos. O homem também [fazia parte] e participava, ocupava seu lugar e tinha a sua missão particular.

O Delta radiante – Et Tenebrae eam non…

O Delta radiante, no Regime Escocês Retificado, representa a Imagem primitiva do primeiro Adão, que se tornou visível com o último Adão…

A Ordem dos Elus Coën e Martinez de Pasqually

A Ordem dos Elus Coën: Quase não temos notícias dos primeiros quarenta ou cinquenta anos da vida de Martinez de Pasqually…

Instalação de Venerável Mestre RL Cavaleiros de Cristo 19

A tarde foi realizada a instalação do Venerável Mestre da Respeitável Loja Cavaleiros de Cristo nº 19, por nosso Deputado Mestre…

Martines de Pascually – Por Jean Marc Vivenza

Martines de Pascually: de su conocimiento radica toda la doctrina Martinista, e inspira directamente la edificación doctrinal del RER…

A Alquimia no RER

A Alquimia: Aquele que é iluminado pela verdadeira Ciência, sabe que não é na matéria onde a luz ou o Espírito da Vida devem ser buscados…

Intelecto bom e intelecto mau, definição

Intelecto bom e intelecto mau: É o conhecimento que o homem adquire por meio da comunicação do pensamento bom ou mau, iluminado pelo espírito…

A Ciência do Bem e o Caminho da Virtude: Reflexões sobre a Espiritualidade e Ética

Explore a relação entre a virtude e o conhecimento do bem em um profundo ensaio sobre a ética humana e o caminho espiritual, com insights de Platão, estoicos e mestres espirituais.

A INICIAÇÃO CRISTÃ – por Jean-Baptiste Willermoz

A iniciação instrui o Homem de Desejo sobre a origem e formação do universo físico, sobre o seu destino e a eventual causa da sua criação, em determinado momento e não em outro…

Orígenes de Alexandria na Doutrina de Martines de Pasqually

Exploração da influência de Orígenes de Alexandria na doutrina de Martines de Pasqually, abordando temas como a queda das almas e a criação do mundo visível.

Phaleg

por Diego Cerrato

Phaleg

A palavra de reconhecimento na Loja de Aprendizes do Rito Escocês Retificado é Phaleg e deve ser utilizada para a admissão nos trabalhos deste grau. Conforme o Ritual, essa palavra é também “O nome do fundador das boas e verdadeiras Lojas”. Essas boas e verdadeiras Lojas, que extraem a instrução por meio de perguntas e respostas do Grau de Aprendiz, são aquelas onde “reina a união, a paz e o silêncio”, sendo reconhecidas por suas características como Justas e Perfeitas, onde “três a formam, cinco a compõem e sete a tornam Justa e Perfeita”. Essas Lojas são conhecidas como “Lojas de São João” e representam o “Templo de Salomão misticamente reconstruído pelos maçons”.

A palavra Phaleg significa “Divisão”, sendo este o nome de um dos filhos de Héber, filho de Sélaj, filho de Arfaxad, descendente de Sem. Ela recebeu esse nome porque, na época de Phaleg, a terra foi dividida (Gênesis, 10:25; I Crônicas, 1:19).

Essa palavra nem sempre foi o nome do Aprendiz, mas substituiu outra anterior: Tubalcaín. Assim, o nome Phaleg, “substituindo” felizmente o de Tubalcaín nos rituais retificados, indica claramente que a reforma lyonesa do Rito Escocês Retificado busca inserir-se na descendência de Sem, não apenas por uma “piedosa loucura” proveniente do espírito perturbado de um “crisíaco”, conforme o “amável” e caritativo julgamento de alguns autores. Para justificar essa erradicação de Tubalcaín, tornada necessária na Reunião do Diretório Provincial de Auvergne, em Lyon, em 5 de março de 1785, leiamos o que Jean-Baptiste Willermoz expõe em um argumento circunstanciado e fundamentado, do qual não se pode alegar que demonstre sinais particulares de perturbação intelectual causada pelas visões da Senhorita Marie-Louise de Vallière (1731-1814), canonesa de Remiremont, irmã, aliás, do cavaleiro Alexandre de Monspey (1739-1807), i.o. Eques Paulos a Monte Alto:

“No dia de hoje, domingo, 5 de março de 1785, o Diretório Provincial de Auvergne, sediado em Lyon, estando regularmente convocado e reunido, com a Regência Escocesa e o Diretório Escocês, o Respeitável Irmão Cavaleiro de Savaron, Presidente, observou que o comitê nomeado para a redação dos graus, de acordo com as decisões do Convento, julgou oportuno substituir a palavra de passe do Aprendiz Tubalcaín pela de Phaleg. O Respeitável Irmão Willermoz, Chanceler Geral, incumbido pessoalmente pelo Convento de Wilhemsbad da revisão dos graus, teria dado motivos para essa mudança, que era do interesse dos Diretórios presentes conhecer. Este Respeitável Irmão foi convidado a explicar-se a esse respeito, e os Irmãos presentes foram instados a ponderar as razões apresentadas para, em seguida, deliberarem.

O Respeitável Irmão Willermoz, respondendo à solicitação do Presidente da Assembleia, afirmou que, independentemente das muitas razões que poderia apresentar para a troca da palavra Tubalcaín, uma delas parece ser especialmente relevante para aqueles que acreditam que nada é indiferente na Maçonaria. Essa razão é que Tubalcaín, filho de Lameque, o Bígamo, e de Estela, foi o primeiro a conhecer a arte de trabalhar com o martelo e foi hábil em todos os tipos de trabalhos com cobre e ferro. Por isso, foi chamado de inventor, o Pai da arte de trabalhar os metais. Essa é a explicação fornecida.

No entanto, não se percebe que é contraditório dar ao Aprendiz essa palavra de passe depois de tê-lo feito abandonar todos os metais, que são o emblema dos vícios.

De fato, por um lado, ensina-se que o verdadeiro Maçom não deve trabalhar com metais; por outro lado, coloca-se o Aprendiz na situação de acreditar que Tubalcaín, o Pai e inventor do trabalho com metais, seria o primeiro fundador da mais alta Maçonaria.

Se Tubalcaín foi o fundador de alguma iniciação, pode-se deduzir qual deveria ser o seu propósito e o objetivo dessa iniciação, conforme as Escrituras. Neste século em que tantos Maçons se dedicam à alquimia, um Rito que conhece seus perigos não deve conservar um nome perpetuado pela ignorância ou falta de atenção daqueles que não perceberam essa relação e essa incongruência, e que ainda estão ligados àqueles que imitam Tubalcaín, o primeiro a trabalhar com metais.

Se observarmos o período em que Tubalcaín viveu, podemos ver que foi antes do dilúvio, o flagelo com o qual Deus quis apagar da face da terra as obras dos homens.

Tudo o que remonta a essa época não deve parecer puro, e deve-se temer ter alguns daqueles que atraíram a ira de Deus sobre os homens.

Se a iniciação de Tubalcaín se propagou, ela é impura, e parece importante romper toda relação com ela, uma vez que os Maçons renunciam a todos os metais, emblema verdadeiro, aliás, preservado em todos os Ritos, para se separarem daquele que os trabalhou primeiro.

Portanto, após o dilúvio, no tempo da confusão das línguas, encontramos a razão para a fundação de uma iniciação secreta que deve ter se perpetuado e é o objeto da busca dos Maçons.

Um estudo da verdade, feito com as mais puras intenções, nos levou a saber que é entre os descendentes de Sem que devemos procurar a fundação da verdadeira iniciação.

Sem foi abençoado por Noé, e é razoável acreditar que Phaleg, filho de Héber e descendente de Sem, pai de todos os filhos de Héber, é o fundador da única e verdadeira iniciação. Este motivo parece ser determinante para substituir o nome Tubalcaín pelo de Phaleg.

Cham, amaldiçoado por Noé, terá tido sua iniciação, como tudo indica, e sua palavra de passe deve ter sido Tubalcaín, que é o emblema dos vícios e adequado aos filhos de Canaã, que a transmitiram. No entanto, devemos lembrar que é dito: ‘Que Canaã seja amaldiçoado, que ele seja o escravo dos escravos diante de seus irmãos.’

Desejando descendência de Sem, os verdadeiros Maçons devem apressar-se em se separar para sempre dos filhos de Canaã, que devem ser, aos olhos de seus irmãos, os escravos dos escravos.

Esses motivos foram ainda mais detalhados no comitê, que finalmente reconheceu que Phaleg é legitimamente designado como o fundador da Maçonaria e o primeiro a ter uma Loja.

Os Diretórios reunidos, deliberando sobre esta questão crucial, decidiram unanimemente, definitiva e permanentemente:

ARTIGO I

Que o nome Tubalcaín seja suprimido e substituído por Phaleg, do qual será dada uma explicação verdadeira ao Aprendiz; que essa alteração terá ocorrido na primeira reunião da Loja La Bienfaisance e o mais breve possível na do distrito.

ARTIGO II

Decide-se que a presente deliberação seja enviada a S.A.R., a Sua Majestade e Eminência o Grão-Mestre Geral da Ordem, o Irmão Príncipe Ferdinand Duque de Brunswick, e a S.A.R., a Sua Majestade o Príncipe Charles de Hesse-Cassel, convictos de que esses dois ilustres Irmãos reconhecerão a veracidade dos motivos que levaram os Irmãos deste distrito a mudar a palavra de passe, e usarão toda a sua autoridade para adotá-la em todas as instituições do Rito.

ARTIGO III

Um envio semelhante será feito a Sua Grandeza o Mestre Provincial do Território, a Sua Majestade o Duque de Havre e de Croy, que aprovou a deliberação dos Diretórios, tendo tido comunicação particular dos motivos que devem determinar a mudança; pedindo-lhe que garanta com toda a sua autoridade a sua execução.

ARTIGO IV

Finalmente, como essa mudança visa estabelecer uma diferença essencial na busca da verdade maçônica e a palavra Tubalcaín foi preservada sem receber muita atenção neste Rito, pois aparentemente não há diferença, os outros Diretórios serão convidados a considerar os motivos anteriormente apresentados. Para esse fim, será enviada a eles uma cópia formal pelo Chanceler Geral do Território, que lhes explicará a razão de uma mudança que, sem a exposição de motivos, poderia parecer arbitrária e muito precipitada; o Diretório de Auvergne buscando todos os meios de se aproximar da verdade e para manter os laços de fraternidade.

Assim feito e decretado no Diretório para que seja algo estabelecido para sempre neste distrito, em Lyon, nos dias e anos mencionados anteriormente.

Extrato retirado e verificado com o Protocolo por nós,
Chanceler Geral do Território, em Lyon, em 18 de junho de 1785.
Assinado Jean-Baptiste Willermoz.

Expedição para ser arquivada nos registros da respeitável Loja da Tríplice União ao Oriente de Marselha, que certifico como conforme e verdadeira.

Lyon, em 27 de junho de 1785.”

Daniel Fontaine acrescenta, em uma abordagem maçônica sobre este tema (1991), a seguinte observação:

“Quanto a Charles de Hesse, ele declarou em sua resposta que não queria nem podia opor-se à mudança feita na palavra de passe, pois Phaleg foi quem conduziu o povo de Deus no momento da confusão. Adicionou ainda, na confusão atual, poderíamos dizer hoje a mesma coisa; sente-se a necessidade de formar um novo povo de Deus e tirá-lo da loucura de Babel. Também é preciso notar que nas instruções dadas por Willermoz sobre TUBALCAÍN, ele pensava que despojar o candidato de todos os metais antes de comunicar-lhe esse nome prova que os metais que Tubalcaín descobriu são bem diferentes daqueles que conhecemos vulgarmente, sendo estes metais maçônicos e simbólicos. Tubalcaín é aquele que primeiro conheceu e fundou a iniciação entre os povos pagãos que obedeciam à voz da natureza e que conheciam sua obra. TUBALCAÍN é provavelmente o nome do Maçom tal como se encontra ainda em seu estado natural, mas o Maçom pode e deve revelar-se pelas obras dos iniciados. O iniciado deve ser instruído por estes antes de saber que há um Salvador, um Mediador, que nos deu uma nova Lei. A menos que queiramos formar uma Maçonaria absolutamente nova, as mudanças a serem feitas devem ser postas em prática com a maior das precauções.

Podemos ver, portanto, que no espírito do grupo de Jean-Baptiste Willermoz, TUBALCAÍN corresponde a um grande iniciado, mas um grande iniciado antes da vinda do Salvador, e o fato mesmo de Cristo ter descido à terra, de ter-se encarnado, muda completamente a perspectiva dos Maçons Retificados”.

Da mesma forma, Jean Tourniac, fundamentando-se nas mesmas conclusões semânticas, lança este sábio e solene aviso aos opositores do significado que Phaleg representa para o Rito Retificado:

“Se a profecia de Phaleg, conforme narrada pela tradição judaica, não é ‘regozijante’ – e a Verdade não necessariamente traz consolo, como lembra René Guénon – ela é altamente benéfica para os Maçons ‘que têm dois olhos para ver e ouvidos para ouvir’, estando atentos aos sinais, como o da Torre de Babel. A maldição profética tem o valor de uma advertência divina, e seria imprudente ‘combater’ Phaleg, por assim dizer, considerando-o desqualificado pela Ordem maçônica devido à sua presença nos graus azuis do Rito Retificado, ou vice-versa.” [2]

Phaleg encarna, conforme amplamente demonstrado aqui por Jean-Baptiste Willermoz, o fundador das “Justas e Perfeitas Lojas”, a verdadeira “Tradição”, a iniciação santa e pura dos “filhos de Deus” que permaneceram na graça do Eterno.

*

Eliphas Levi, em sua obra “O Livro dos Esplendores” (1894), compartilha a história de Phaleg de uma maneira fascinante:

“Na época em que os homens se reuniram na planície de Sinar, sob o reinado de Nemrod, um arquiteto chamado Phaleg emergiu. Filho de Héber, o pai dos hebreus, Phaleg concebeu um plano audacioso para proteger a humanidade de um novo dilúvio: a construção de uma torre grandiosa. O primeiro andar da torre seria circular, abrangendo doze portas e setenta e dois pilares. O segundo, quadrado, com nove andares; o terceiro, triangular, em uma espiral de quarenta e duas voltas. O quarto, com a torre elevando-se cilíndrica, possuindo setenta e dois andares. Para transitar entre os andares, sete escadas seriam construídas. Portas de cada andar seriam abertas e fechadas por mecanismos cujos segredos seriam guardados hierarquicamente. Todos os habitantes da torre teriam direitos civis iguais, onde aqueles no topo dependeriam da ajuda dos que estavam abaixo, assim como estes dependeriam da vigilância daqueles. Esse era o plano visionário de Phaleg.

No entanto, os trabalhadores traíram o grande arquiteto. Os segredos dos andares superiores foram revelados aos que trabalhavam abaixo; portas foram deixadas sem proteção, algumas bloqueadas e outras forçadas para conquistar lugares nos níveis superiores. Logo, cada um queria trabalhar à sua maneira, ignorando os planos meticulosos de Phaleg. A confusão se instalou na linguagem e nas obras deles, resultando na torre afundando parcialmente e ficando incompleta, pois os trabalhadores não se dispuseram a se ajudar mutuamente. A confusão tornou-se a linguagem deles, pois faltava unidade de pensamento.

Phaleg, então, percebeu que havia depositado muita confiança na compreensão mútua dos homens. Contudo, em vez de serem autocríticos, os homens culparam Phaleg por suas dificuldades, denunciando-o a Nemrod, que o condenou à morte. Phaleg desapareceu sem deixar rastros, e seu destino permaneceu desconhecido.

Nemrod, acreditando que Phaleg havia sido assassinado, ordenou a criação de um ídolo em sua homenagem, chamado Phaleg, o qual emitiria oráculos favorecendo a tirania de Nemrod. No entanto, Phaleg tinha fugido para o deserto, percorrendo o mundo para explicar seu erro excessivamente generoso. Onde quer que parasse, erguia um tabernáculo triangular. Um desses monumentos foi descoberto na Prússia, em 553, entre os destroços de uma mina de sal. A quinze côvados de profundidade, encontrou-se uma construção triangular, contendo uma coluna de mármore branco, na base da qual estava escrita toda a história em hebraico. Ao lado da coluna, havia um túmulo de pedra calcária e, entre a poeira, uma pedra de ágata com a seguinte inscrição: “Aqui repousam as cinzas do mestre G∴ A∴ da Torre de Babel. Adonai perdoou-lhe os pecados dos homens porque os amou. Morreu por eles na humilhação, extinguindo assim o esplendor dos ídolos de Nemrod.”

Aqui, há uma conexão direta com o simbolismo do Grau de Aprendiz. Lembramos que esse Grau se insere no momento alegórico da queda do Homem, devido ao desvio das diretrizes estabelecidas pelo Criador, resultando em um mundo de confusão e caos. Por esse motivo, no Oriente, surge a representação da coluna truncada com o lema do Aprendiz “Adhuc Stat”. Esta coluna truncada, símbolo da perda de conexão entre o Céu e a Terra, expressa, em um de seus aspectos, essa divisão.

O homem, ao perder a conexão com seu Criador pela queda, se encontra “Dividido” e observa o universo a partir dessa divisão interna e externa. Quando o homem age contra os princípios inspirados por seu Criador, colhe como consequência a ação da Justiça Divina. A Justiça está no Oriente porque provém de Deus. Como resultado, ele é lançado para o Ocidente, para o mundo das trevas materiais. Nesse cenário penoso e triste, clamando ao seu Criador, é oferecida a ele a porta da Clemência como caminho de retorno ao seu estado primordial, iniciando assim o caminho de volta do Ocidente para o Oriente, conhecido como Iniciação. Daí que a Iniciação envolva uma “reorientação”, uma mudança de direção em direção ao Oriente.

Um dos principais objetivos do Aprendiz é reconhecer e tomar consciência de seu estado caído e, dentro desse estado, sentir a chispa divina que nada nem ninguém pode extinguir, a base da coluna do Adhuc Stat que permanece firme sobre o solo, apesar de ter perdido a parte superior. Esse reconhecimento é o da “Divisão” de seu estado atual, e somente a partir daqui ele pode começar sua jornada de reconstrução do “Templo”, retornando à Unidade. Onde ocorre esse reconhecimento? No Pórtico do Templo, lugar correspondente ao Aprendiz, um mundo contingente e fenomênico no qual ele se prepara para encontrar a entrada do Templo.

A raiz hebraica do nome PHALEG é PHAL (lp) e significa “escolha”, “separação”, ao mesmo tempo que uma “germinação”. Quanto à raiz LEG (gl), indica tudo o que está amarrado, ligado, mas também indica a confusão. Portanto, Phaleg também representa outra “divisão” ou “separação” no sentido oposto à anterior: é aquela que ocorre no candidato por meio do processo de iniciação. Por esse processo, o profano que busca, submete-se à cerimônia de iniciação, persevera, sofre e finalmente recebe a luz maçônica, foi separado do mundo profano, daquela “torre de Babel” onde tudo é confusão e escuridão espiritual. Ele foi introduzido entre os homens que direcionam seu espírito para a virtude, para aquele raio de luz que aponta o caminho de retorno ao seu estado celestial. Dessa forma, ele é separado do mundo profano para sempre e transformado em um verdadeiro Homem de Desejo que recebeu a influência espiritual que abrirá seu espírito e seu coração. Não esqueçamos que, no momento da iniciação, o Venerável abre o coração do Aprendiz com três golpes de Malhete sobre seu coração, como se quisesse rompê-lo para que toda a influência espiritual que está sendo transmitida penetre nele e que, com o tempo adequado, faça germinar em seu coração.

Assim, ele é afastado da torre de Babel ou do mundo da confusão, onde os homens começaram a falar em diversas “línguas” incompreensíveis entre si. Lembremos que antes da Torre de Babel, todos os homens falavam a mesma língua, e é por causa de sua má ação que Deus os dispersou e fez com que falassem línguas diferentes. Podemos supor que, nessa confusão de línguas, a linguagem da razão substituiu totalmente a linguagem do coração, intimamente ligada à parte mais espiritual do ser. A ciência, com orgulho, apenas produz aberrações e perde o temor de Deus, ficando sua trajetória completamente desorientada. Para poder retornar ao estado em que todos falamos a mesma língua, será necessário receber novamente o Espírito Santo, fato representado no Pentecostes quando o E. S. desce sobre os Apóstolos em forma de línguas de fogo, conferindo-lhes o dom de línguas, o que representa justamente o inverso do que ocorreu nos tempos da Torre de Babel.

*

Phaleg, além de ser o nome do Espírito Olímpico associado a Marte, personifica o arquétipo desse planeta, representando energia emocional, impulso sexual, paixão, zelo, ação, luta e, em muitos casos, destruição. Essa conexão revela a ambição e a força de uma pessoa. Em seu estado pleno, confere uma natureza forte, confiante, ágil, ativa, generosa e combativa. Em sua desvirtuação, torna o indivíduo violento, abrupto, precipitado, desenfreado e cruel. Em última análise, essa relação evoca a projeção da vontade na senda da reintegração, pela submissão das paixões humanas. O maçom, nesse contexto, direciona sua vontade para conquistar as virtudes espirituais do Cavaleiro, buscando um novo estado de consciência.

Essa transformação requer a transmutação das sete tendências negativas em suas contrapartes positivas, não por confronto, mas pela potencialização do positivo, direcionando sempre para a luz, para o bem. A inveja, representada pelo mercúrio, transforma-se em Benevolência e Justiça. A avareza saturnina do chumbo, em caridade. A gula de Júpiter e o estanho, em Temperança e Sabedoria. A preguiça da Lua e a prata, em Diligência e Resolução. A luxúria de Vênus e o cobre, em Castidade e Amor puros. A ira de Marte e o ferro, em Paciência e Fortaleza; e o orgulho, do Sol e ouro, em Humildade.

Ao integrar essas sete virtudes (quatro cardinais e três teologais), triunfamos sobre os sete pecados capitais. Essa atitude conduz a uma separação definitiva do mundo corrompido, permitindo-nos merecer o reconhecimento como dignos Irmãos em uma “boa e verdadeira Loja”. Isso vai além da reunião ritualística no Templo; é a reconstrução mística do “Templo de Salomão” em nós mesmos, corpo, alma e espírito. Tornamo-nos, assim, Filhos de Deus, que, após a jornada do filho pródigo, retornam à casa celestial do Pai.

Essa exploração poderia ser mais profunda, gerando discussões mais aprofundadas. De todo modo, é fundamental compreender plenamente os símbolos e palavras dos rituais para nos aproximarmos, na medida do possível, da essência iniciática de nosso Rito e Doutrina.

Notas:

[1] Registado em Madrid em 4 de fevereiro de 2005 para a R. L. Cavaleiros da Rosa (Rito Escocês Retificado).

[2] J. Tourniac, Um nome muito judeu em um ritual muito cristão: um certo “Phaleg”, em Vida e Perspectiva da Maçonaria Tradicional, Dervy, 1978, p. 174