Sello Oração E Caridade

Respeitável Loja de São João

Oração e Caridade nº 22

BLOG

O segredo maçônico

[Extraído do Prólogo do livro El Esoterismo del Grado de Maestro Escocés de San Andrés en el Rito Escocés Rectificado de Roland BERMAS]

O SEGREDO MAÇÔNICO

Porque fazer aqui o que alguns chamariam de revelação? Em primeiro lugar, é certo que apenas lerão estas linhas aqueles que já tenham uma clara motivação para dedicar-lhe seu tempo. Além disso, está escrito: “Mas nada há encoberto que não haja de ser descoberto; nem oculto, que não haja de ser sabido” (Lc, 12:2 e 8:17; Mt, 10:26; Mc, 4:22), inclusive, como nos indicam os versículos citados anteriormente, isto não se dirige necessariamente a todos. Além do mais, o que está escrito é uma coisa, e o que é vivido, outra. O que é intelectualmente aprendido não é necessariamente compreendido de forma vivencial. É o que deve-se entender sobre a natureza do segredo maçônico já que, na realidade, é ao conhecimento do coração a quem ele se dirige, e saber o que é a “letra” de uma coisa não é conhecê-la. Há uma diferença de natureza essencial entre saber e conhecer.

Numerosos autores têm dedicado-se a tentar definir a natureza do segredo maçônico e a razão da impossibilidade de sua revelação. De nossa parte, nos contentaremos em recordar a natureza deste segredo, através de três breves citações tiradas de dois personagens totalmente diferentes. A impossibilidade será então evidente. Primeiramente, citaremos René Guenon. Guenon é muito claro a este respeito e retoma ele em várias ocasiões. Por exemplo: “O segredo iniciático é tal que não pode sê-lo, pois consiste exclusivamente no inexplicável, o qual, em consequência, é necessariamente também incomunicável”.1

“A proibição de revelar o ensinamento sagrado simboliza a impossibilidade de expressar através de palavras o verdadeiro mistério, do qual este ensinamento, por assim dizer, não é mais do que uma vestimenta, que o manifesta e o vela ao mesmo tempo.”2

A seguir citaremos Casanova, um homem de que muitos se surpreenderão ao descobrir sua qualidade maçônica. Na verdade, é um personagem muito distante da imagem oferecida dele pelo imaginário popular. Escreveu assim em suas memórias3: “Aqueles que decidem ser recebidos maçons apenas para conseguir saber o segredo, só podem equivocar-se, já que pode-se chegar a viver cinquenta anos como Mestre Maçom sem jamais transmitir o segredo desta Confraria. O segredo da Franco-Maçonaria é inviolável por sua própria natureza, já que o Mestre que o conhece, o sabe por ter descoberto por si mesmo. Não aprendeu de ninguém, mas o descobriu pela força de ir à Loja, de observar, raciocinar e de deduzir.”

Sendo assim, o segredo não está na aparência das coisas, nos símbolos e nos emblemas postos em prática nos decorrer das cerimônias. Não terão nenhum sentido senão quando se convertem em signos para aquele que o contempla, quando ganham vida nele e, quando através dele, passam do virtual para o real. É aí, nesta vivência, necessária para ser algo que não seja uma simples ilusão, quando desta troca surge uma influência espiritual, e onde encontra-se efetivamente o segredo. Crendo-se investido porque conhece apenas as formas exteriores, o levam a encontrar-se apenas na aparência, cheio de orgulho, e não no Ser, permanecendo assim completamente alheio da realidade da Iniciação.

Em fim, para concluir este debate um tanto estéril sobre o segredo e sua natureza, deixamos mais uma vez a palavra para René Guenon: “No fundo, o verdadeiro segredo e, por outro lado, o único que não pode ser traído jamais de nenhuma maneira, reside unicamente no inexplicável, que é por si mesmo incomunicável, e há necessariamente uma parte de inexplicável em toda verdade de ordem transcendente; e é nisto que reside essencialmente na realidade, o significado profundo do segredo iniciático”4. A realidade deste segredo, para usar este termo, é o caráter inefável das transformações de deverão cumprir-se no coração do iniciado quando, abstraído das formas exteriores, contempla a realidade Supra-Celeste da Divindade: o Grande Arquiteto do Universo (G.A.D.U.).

[1] Apreciações sobre a Iniciação, Capítulo 13, p. 89, CS Editions-Buenos Aires.
[2] Idem. Capitão 17 p. 127. Ver também cap. 31, pág. 205.
[3] Memórias, Ed. Plêiade, Volume I, p. 627.
[4] René Guenon, O reino da quantidade e o sinal dos tempos. P. 88-89, Ed. Paidós.