Anne-Louise SALOMON, F.- R. Salzmann, 1749-1820 – Son rôle dans l’histoire de la pensée religieuse à Strasbourg (Seu papel na história do pensamento religioso em Estrasburgo), Paris, Berger-Levrault, 1932, p. 90-93.
ESTAS SÃO MINHAS IDEIAS SOBRE O REINO DE DEUS
Por Frédéric-Rodolphe Saltzmann (1749-1821)
“A atração especial de Saltzmann o leva, assim como seu mestre Böehme, ao problema das Origens e das Coisas Finais. Vimos, ao falar de suas obras, o lugar fundamental que as questões escatológicas ocupam em seus escritos. Em sua correspondência com Herbort, afirma que o milênio só começará quando a raça humana tiver desaparecido pela morte. Ele se esforça para convencer Herbort de seu ponto de vista, chegando as vezes a mostrar-se fanático e leal ao defender seu ponto de vista pessoal. Saltzmann distingue claramente entre o dogma cristão e a Bíblia, admite discussões sobre o primeiro, mas condena qualquer crítica bíblica.
Em uma carta a Lavater (23 de setembro de 1784), Saltzmann expõe seu sistema do Reino de Deus:
“O reino de Deus é constituído unicamente por bons espíritos. O homem também [fazia parte] e participava, ocupava seu lugar e tinha a sua missão particular. Mas, em vez de combater e vencer o inimigo, deixou-se surpreender e subjugar por ele, e se converteu, não seu aliado, mas seu escravo. Ele caiu abaixo de Satã, não sob uma relação da maldade ou da liberdade de se tornar um habitante do reino de Deus, mas sob uma relação de força. Se tornou um escravo dos elementos, por seu corpo grosseiro e elementar. Satanás é o dono dos elementos na medida em que Deus não o detém. O homem deve sair deste reino de Satã, ou melhor, Satã e seu reino devem sair do reino dos homens, a fim de que se expanda o reino de Deus, o reino de Cristo, representante e primeiro enviado de Deus. Através da união com Cristo e os Anjos, podemos alcançá-lo desde já, através de uma comunhão espiritual, antes de que chegue o dia, o grande dia, em que haverá uma separação total do bem e do mal. Estas são as minhas ideias sobre o reino de Deus.”
Saltzmann se entrega à leitura de obras místicas com verdadeira paixão. Temos o catálogo manuscrito de sua biblioteca: todos os místicos, de Ruybroek a Lavater, podem ser encontrados lá, passando por Rancé, Fenelon e Mme Guyon. Encontramos tratados esquecidos, como Jesus Immanuels goettliche Liebesgeschichte, publicado em Amsterdam em 1705.
[…]
Saltzmann não era exatamente um sectário; não rompeu com a Igreja, mas raramente frequentava o culto público, devido ao racionalismo que nele reinava. Aspirava à unidade da Igreja, alimentava a sua piedade lendo obras de edificação de origem católica; ele pertencia àquela categoria de protestantes mencionada por Joseph de Maîstre, cuja “terna piedade os animava a sentir afeição por escritores místicos católicos”. Naqueles tempos, quando qualquer testemunho de admiração pela piedade católica era tachado de criptocatolicismo, quando se suspeitava por toda parte da influência dos jesuítas, Saltzmann não escondia suas simpatias por Santa Teresa, nem suas aspirações por uma Igreja Universal acima de toda forma histórica.