A Festa da Renovação da Ordem
De 06 de novembro, por Gilles Ducret
Eis que, há pouco mais de dois séculos, a Maçonaria Retificada tomava corpo no Convento Nacional de Lyon, realizada em novembro de 1778. É deste Convento que data o Código Maçônico das Lojas Reunidas e Retificadas que prevê, no capítulo de Banquetes & Festas, junto as de São João, esta festa de Renovação da Ordem de 06 de novembro.
O referido Código especifica que durante esta Festa será feito a leitura do Código dos Regulamentos Maçônicos e o Orador pronunciará um discurso solene, no decorrer da qual sugerirá que se possa falar da reforma alemã e francesa, e das ações de beneficência que a Maçonaria tem feito nas diversas regiões da Europa. Prevê também que será tratado, neste dia, de reunir no mesmo local todas as Lojas da mesma cidade ou de uma mesma Comarca.
Não querendo tomar aqui o lugar do Irmão Orador, nosso papel se limitará, simplesmente, a chamar a atenção dos Irmãos sobre a importância que reveste esta Festa, também para a Ordem em geral, e para esta Loja e cada um dos que a compõem em particular.
Nos limitaremos a três observações e um desejo:
I. A importância desta Festa para a Ordem em geral
Esta Festa, enquanto Festa da Ordem, nos parece afirmar três coisas essenciais:
- A noção de Ordem;
- A ideia de uma renovação da Ordem;
- A consciência da vocação iniciática da Ordem.
1º. A noção de Ordem
Esta noção de Ordem está sempre presente na Maçonaria Retificada. Mas, de que Ordem se trata?
O Irmão Preparador anúncia durante a entrada do candidato (cf. Ritual do Grau de Aprendiz.)
“Lhe convidamos a não confundir jamais a respeitável Ordem dos Franco-Maçons com essa multidão de indivíduos, e também de Lojas, que usurpam esse título, embora ignorem ou desconheçam a finalidade real e seus verdadeiros princípios, e que degradam assim a Franco-Maçonaria com sua conduta, e mais ainda pelas falsas doutrinas que adotam e que não escondem professar”.
O Venerável Mestre veste o Aprendiz com o avental dizendo-lhe (cf. Ritual do Grau de Aprendiz.) “Receba de minhas mãos o hábito da Ordem mais antiga e respeitável que jamais existiu”.
Trata-se assim, sem nenhum equívoco, da Ordem dos Franco-Maçons.
2º. A ideia de uma renovação da Ordem
Diz-se, que a Maçonaria Retificada sempre desejou, desde sua fundação, por reformar, por restituir a Franco-Maçonaria autêntica. Todos conhecem esta passagem de uma carta de Willermoz a Charles de Hesse, de 12 de outubro de 1781: “Estou convencido, desde minha entrada na Ordem, de que a Maçonaria velava verdades raras e importantes, e esta opinião se transformou em minha bússola”.
Desde então, para Willermoz, retificar a Maçonaria foi sua razão de existir, fazendo dela o veículo das “verdades raras e importantes” que ela possuía sob forma velada. Esta aí o que podemos chamar de Renovação da Ordem, pois a retificação esperada e trabalhada por Willermoz encontrou sua consagração nos Conventos de Lyon e Wilhelmsbad.
3º. A consciência da vocação iniciática da Ordem
É em razão desta vocação iniciática que a Maçonaria havia perdido, pelo que Willermoz empreendeu sua retificação, trazendo os Irmãos de volta à Ordem. É essencial para um Maçom, sentir que pertence a uma Ordem com a qual deve formar um corpo. E esta festa, como as demais festas, nos permite reafirmar, de coração e de palavra, este laço essencial.
II – A importância desta Festa para nossa Loja
O trabalho de retificação da Maçonaria, empreendido por Willermoz, deve ser continuado por nossa Loja. A este respeito, três coisas nos parecem essenciais na renovação de nossa Loja:
- A busca da unidade;
- O ideal espiritual mais elevado;
- O trabalho necessário para alcançá-lo.
1º. A busca da unidade
Nossa Loja deve assim ter, continuamente, a preocupação pela sua coesão, por sua unidade, que lhe assegurará a estabilidade necessária em seu desenvolvimento.
2º. O ideal espiritual mais elevado
Este ideal espiritual passa, primeiramente, pela consciência constante de representar nos trabalhos da Loja a Ordem dos Franco-Maçons, no que ela tem de melhor, de mais respeitável e de essencial. É a própria consciência, a ideia fixa de Willermoz: “a Maçonaria é o veículo de verdades raras e importantes”.
3º. O trabalho necessário para alcançá-lo
É o trabalho em seu sentido mais espiritual. Nada pior que uma Loja que sussurra comodamente no conforto espiritual de uma boa oficina, crendo-se a melhor das oficinas de obreiros, o “modelo a ser seguido”. É a análise profunda dos símbolos da Loja, através de uma prática rigorosa do Ritual, da exigência desse trabalho diante dos Irmãos que a compõem.
III – A importância desta Festa para cada um dos Irmãos da Loja
Este trabalho de retificação deve ser continuado, também, para cada um dos Irmãos. A esse respeito, três coisas nos parecem essenciais ao Maçom para sua própria renovação:
- O sentido de compromisso na Ordem;
- A consciência de uma renovação necessária;
- O sentido do amor fraternal.
1º. O sentido de compromisso na Ordem
O compromisso do maçom é algo de suma importância. Sim, porque não é um compromisso penoso, é o compromisso do homem livre.
E esta Festa da Renovação da Ordem, não é também a Festa em que nós mesmos renovamos nossos compromissos perante Deus, perante nossos Irmãos e perante a humanidade? Nosso compromisso na Ordem traz em si a verdadeira liberdade, como verdadeiramente é uma semente.
2º. A consciência de uma renovação necessária
Se não tivéssemos consciência desta necessidade, estaríamos aqui neste momento? Trata-se, como bem disse São Paulo, “de matar o homem velho para originar o homem novo”, como que fazendo eco as palavras de João Evangelista: “Eis que faço coisas novas”. Em virtude das maravilhosas correspondências que tem com o milagre da Unidade, a Ordem é também nossa própria ordem interior. É verdadeiramente inerente a uma Ordem autenticamente iniciática, que nos permite reencontrar nossa ordem interior. Em outras palavras, esta Festa é também a Festa de nossa própria renovação na Ordem.
3º. O sentido do amor fraternal
É o amor que nos renova, que transforma a visão com que olhamos nossos Irmãos. Como se pretende amar Deus se somos incapazes de amar nossos Irmãos? Amar teu Irmão pelo que ele realmente é, pelo que ele É no fundo de si mesmo, sendo assim tanto para você quanto para qualquer outro, que esta renovação revela cada um a si mesmo. É nisto que consiste a revelação que Nosso Senhor nos revela no mais profundo de nossos corações, ali onde o silêncio e a pureza recebem sua Palavra reveladora.
Que possamos dizer com o apóstolo João, o bem-amado do Senhor, “sabemos que passamos da morte para a vida porque amamos nossos Irmãos”. Em outras palavras, esta Festa é também a Festa de nossa própria renovação no amor fraternal.
E para concluir, um desejo…
Que esta Festa seja vivenciada, no próximo ano, como uma verdadeira Festa, com toda a alegria, todo o amor fraternal e todo o esplendor que ela merece. Que nesta ocasião, tenhamos todos uma plena consciência de ser um com esta Ordem, a mais antiga e respeitável que nunca existiu.
Que possamos, para a Glória do Grande Arquiteto do Universo, e em nome da Ordem, nos preparar no mais profundo de nossos corações, ali onde cessam todas as palavras vãs, mas onde reina o Verbo, eternamente, a fim de que estejamos verdadeiramente renovados.