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Oração e Caridade nº 22

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Algumas questões importantes sobre Iniciação Maçônica no Rito Escocês Retificado

mar 8, 2024Artigos, Doutrina0 Comentários

Algumas questões importantes sobre Iniciação Maçônica no RER - Perit ut Vivat

Tradução:
BAI Aurélio Prosdócimo

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ALGUMAS QUESTÕES IMPORTANTES SOBRE A INICIAÇÃO MAÇÔNICA NO RITO ESCOCÊS RETIFICADO

por Diego Cerrato [1]

Algumas questões importantes sobre Iniciação Maçônica no RER - Perit ut Vivat
Ao meu Venerável Mestre
Juan Carlos Tejedo Camarero✝,
que completou sua Iniciação Maçônica em
3 de agosto de 2010,
cruzando as portas da Jerusalém Celestial
para encontrar o Cordeiro triunfante.

 

Jean Baptiste Willermoz (1730-1824), figura-chave no desenvolvimento do Rito Escocês Retificado, era uma mente sábia e versada na Maçonaria. Em 1772, ele expressou: “Por muito tempo, os maçons têm se dedicado a infindáveis pesquisas para desvendar o verdadeiro propósito da Ordem” [2], ressaltando: “Dediquei-me incansavelmente a descobri-lo, ao longo de mais de vinte anos de estudo contínuo, mantendo uma extensa correspondência com Irmãos instruídos na França e no exterior” [3]. Se Willermoz, com toda sua erudição, dedicou mais de vinte anos para compreender a Iniciação maçônica, podemos afirmar que o fruto desse trabalho foi cuidadosamente preservado no Rito Escocês Retificado, representando uma tradição espiritual que se estende às raízes da existência humana e guia o homem em sua jornada, recordando-lhe sua realidade primitiva e oferecendo os meios necessários para alcançar o destino glorioso que lhe é inerente por sua natureza divina.

Este artigo busca recordar algumas questões-chave que compõem a identidade da Doutrina Retificada, em uma síntese necessária dada a limitação deste Boletim. No entanto, pretende servir como compilação de ideias consideradas essenciais, amplamente exploradas em trabalhos anteriores. A importância dessas questões reside na orientação que fornecem ao processo específico de Iniciação desta via maçônica cristã.

Joseph de Maîstre, em sua Memória ao duque de Brunswick (1782), destaca que “O grande propósito da Maçonaria será a ciência do homem” [4]. No trabalho sobre o esoterismo cristão, Jean-F. Var esclarece essa Ciência do homem com base nos escritos de Willermoz e em uma anotação de Saint-Martin. Essa explicação é crucial para compreender os fundamentos doutrinários da Ordem e a natureza da Iniciação que ela busca perpetuar. Convidamos à constante reflexão sobre seu conteúdo, nunca perdendo de vista a orientação precisa do caminho espiritual proposto por esta via em seu processo iniciático:

1º, “A Maçonaria fundamental tem um objetivo universal, algo que a moral não poderia alcançar. A prática da moral sólida e dos deveres sociais são, de fato, o objetivo aparente dos graus, mas essas virtudes não podem ser consideradas como o verdadeiro propósito. Para que precisariam então de emblemas (=símbolos) de mistérios e Iniciação? Seu objetivo é esclarecer o homem sobre sua natureza, origem e destino” [5].

2º, A Maçonaria bem ponderada (refletida) “lembra constantemente, através de vários meios, sua natureza essencial. Busca de forma contínua encontrar ocasiões que revelem a origem do homem, seu destino primordial, sua queda subsequente, os males que o seguiram e os recursos que a bondade divina lhe proporcionou para triunfar” [6].

3º, O terceiro é de Louis-Claude de Saint-Martin. Ele aparece em sua obra intitulada “Tábua natural da relação entre Deus, o homem e o universo”, obra que nada mais é do que uma exposição dos pontos em comum entre a Doutrina de Saint-Martin e Willermoz (a de Martínez): A palavra “iniciar”, escreve Saint-Martin, “em sua etimologia significa aproximar, unir ao princípio: a palavra initium significa tanto princípio quanto começo”. Desta forma o objetivo da Iniciação “é anular a distância que existe entre a luz e o homem, ou aproximá-lo de seu princípio, restabelecendo-o no mesmo estado em que se encontrava no princípio” [7].

Assim, seguindo os brilhantes esclarecimentos de J.-F. Var [8], constatamos que a Iniciação ou o fenômeno iniciático é triplamente relativo:

  • Em relação a Deus: Deus-Princípio como criador e organizador de todas as coisas, e Deus-Providência como Restaurador por sua ação providencial para anular os efeitos da queda (privação divina absoluta).
  • Em relação ao homem: a sua condição passada, presente e futura. A Iniciação é exclusivamente para o homem. Sem o homem, não há Iniciação.
  • Em relação à história: Por um lado, à história metafísica e ontológica do homem que abrange os termos queda, reparação da queda e restauração ou reintegração. E por outro lado, à História Sagrada pela qual a Providência concede as várias formas que possibilitam essa Iniciação, adequando-a aos estados sucessivos do homem, adequação pensada, desejada e realizada pela Providência.

“A Iniciação, em última análise, não é outra coisa – mas essa outra coisa é tudo – senão os socorros divinos poderosos e eficazes concedidos ao homem pela clemência do Criador; o todo constitui um processo dinâmico, no qual Deus e o homem cooperam em sinergia para a glória de Deus – glória de Deus consistente no bem do homem” [9].

No processo iniciático, onde os rituais e a Ordem Retificada direcionam esse poderoso socorro divino, o verdadeiro significado da Iniciação Maçônica se torna evidente desde o início, simbolizado na Loja de Aprendizes pela coluna truncada (Adhuc Stat!).

O ser humano, separado de sua origem divina (morte espiritual), mas ainda conservando sua natureza espiritual, através da Iniciação, deve ser aproximado ou reunido a Deus, à luz de onde provém, restaurando assim seu estado original (ressurreição espiritual ou gloriosa). O trabalho do maçom, portanto, é restaurar a coluna truncada para reconectar-se com o divino. Esta é a única Iniciação possível na Maçonaria primitiva, retificada na Maçonaria Cristã do R.E.R.. Não pode haver Iniciação Maçônica, de acordo com os princípios que expusemos anteriormente, em um contexto ateísta ou agnóstico, onde, no máximo, apenas restariam símbolos mudos, como um quebra-cabeça desordenado e incompleto do Templo, conforme o Mestre Escocês o encontra no início de sua jornada.

O percurso estabelecido pelos diferentes graus é preciso e minucioso, e cada etapa deve ser explorada e realizada profundamente a partir do âmago do ser.

O primeiro grau simbólico do R.E.R. assinala o início do tempo das coisas materiais, elementos dos quais o homem físico atual é formado, surgindo após a aplicação da justiça inexorável que puniu o homem por sua queda. No entanto, ele conseguiu amenizar isso, buscando a misericórdia do criador, que concedeu o socorro da Iniciação para reparar sua falta. O segundo grau indica a duração dessa existência material, durante a qual o homem deve se conhecer para corrigir o que está torto, essencialmente expiar sua falta: “A vida inteira é dada a ele para aprender a fazer isso, mas muitas vezes e quase sempre chega ao fim antes de ter começado, e permanece com pesar…” [10].

No Grau de Mestre, o candidato é apresentado ao cadáver de Hiram, representando “o fim do homem físico e de todas as coisas temporais” [11], uma vez que ele “lembrou” diante do monumento funerário dos mestres que “sua natureza essencial é imperecível e sobrevive [ao seu corpo físico-material], pois está destinada a retornar à sua fonte original, se o mereceu” [12]. O corpo do recipiendário será colocado no túmulo de Hiram, representando o assassinato de Hiram Abif pelos maus Companheiros, lembrando assim a morte espiritual do primeiro Adão tentado pelas potências demoníacas e seu revestimento carnal. A carne, nesse contexto, é a tumba onde o espírito é submetido à morte, limitando sua ação e visão pela gravidade dos instintos e paixões desordenadas, produtos do “esquecimento” após a encarnação: “esquecendo [o homem] o que é, o que deve a si mesmo e aos outros e todas as suas relações sociais…” [13].

Os cinco pontos de perfeição [14], pelos quais o novo Mestre é erguido da tumba, proporcionam a ele o meio de regeneração moral, tanto individual quanto coletiva. É por meio deles que ele recebe a vida no seio da morte, sendo sua lição moral que “se o pior dos males é consumir-se na morte do vício, o homem pode, com coragem, boa vontade e a ajuda de bons conselhos, subjugar as paixões que o dominam e adquirir uma nova vida; é então que ele se torna um verdadeiro Mestre, útil para a instrução e o exemplo” [15]. “Aquele que estava como morto renunciou aos vícios que poderiam corrompê-lo e recebeu uma nova vida” [16].

Em última análise, a superioridade do Mestre, sua verdadeira maestria, sua nova vida, será determinada daqui em diante pelo domínio “de seus pensamentos, de suas palavras e de suas ações” [17]. É importante salientar que essa regeneração ou renascimento ocorre ainda na carne, essa carne corrompida que se desprende dos ossos do cadáver que representa o homem morto para a virtude, mas que “mantém no fundo de sua alma o germe do bem que o une ao seu ser primordial” [18], renascendo à virtude através do processo iniciático que o desperta do profundo sono da tumba, assim como Lázaro acordou em seu sepulcro ao ouvir as palavras do Senhor: Lázaro, levanta-te. Saint-Martin nos diz: “É a ti, alma humana, a quem a palavra se dirige, mais ainda do que àquele cadáver, que não passava do símbolo do verdadeiro renascimento […]. Se te foi dito [pelo Reparador] Lázaro, levanta-te, foi apenas para que, por sua vez, repitas voluntariamente a todas as tuas faculdades adormecidas: Lázaro, levanta-te, e para que esta palavra se estenda continuamente por todas as partes do teu ser” [19]. “Essa operação preliminar é indispensável para ti, pois tu estás morto há quatro dias (tuas quatro grandes instituições primitivas que já não saberias preencher) e porque disseminas por toda parte a imperfeição” [20].

Por isso, nessa etapa, é mais apropriado falar de regeneração ou renascimento e não de ressurreição, pois o homem ainda mantém sua natureza animal concupiscível, embora o verdadeiro ser espiritual já tenha começado a “despertar” e a “lembrar” sua verdadeira origem divina, tomando assim consciência do verdadeiro estado de seu exílio, aprendendo “a distinguir bem o que, por sua natureza, é perecível no homem e em todas as coisas, e o que é indestrutível, e a nunca confundir isso” [21]. Somente “ao finalizar sua jornada na região terrestre, ele se despoja de tudo o que é estranho à sua verdadeira natureza” [22], que é a espiritual: “o sábio vê se aproximar sem temor o momento em que a morte o despojará do que lhe é estranho para devolvê-lo a si mesmo” [23].

A Iniciação, portanto, não pode ser completa no Mestre, daí o 4º grau simbólico do R.E.R.. O trabalho do Mestre continua sendo penoso, pois, neste plano físico, todo homem permanece subjugado às influências de sua natureza animal, e através dela, às revoluções espaço-temporais que impedem uma visão espiritual plena: “Esse encaixe inconcebível de duas naturezas tão opostas [animal e espiritual] é, no entanto, hoje, o triste privilégio do homem. De um lado, ele destaca a grandeza e a nobreza de sua origem; por outro lado, reduzido à condição dos mais vis animais, é escravo das sensações e necessidades físicas. […] a natureza dos encaixes de matéria se opõe à unidade da Natureza espiritual” [24]. Assim descreve Joseph de Maîstre a dolorosa contradição desse estado deplorável: “No estado em que se encontra [o homem], ele não tem nem a triste felicidade de ignorá-lo: ele se contempla incessantemente e não pode fazer isso sem se envergonhar; sua própria grandeza o humilha, pois, suas luzes, que o elevam até a região dos anjos, servem apenas para mostrar-lhe inclinações que o fazem descer à região das feras. Ele busca nas profundezas de seu ser alguma parte sã, sem poder encontrá-la: o mal corrompeu tudo, e o homem todo é uma doença. Agregado inconcebível de dois poderes diferentes e incompatíveis, centauro monstruoso, ele sabe que é resultado de alguma prevaricação desconhecida, de algum enxerto detestável que o corrompeu até em sua essência mais íntima” [25]. E apesar de tudo, “A essência de todo ser inteligente é [e continua sendo] o conhecer e o amar”, então “Ele se dirige continuamente para as regiões da luz” [26].

O destino glorioso apontado pela Iniciação, como um termo vitorioso, só pode culminar em uma verdadeira ressurreição espiritual, ou seja, em uma verdadeira e plena união com a divindade. Evidentemente, como mostra a terceira prancha do quarto grau através da ressurreição gloriosa de Hiram Abif, esta não ocorre na carne, mas no corpo glorioso, onde não existe mais a carne, evidenciando “a total inércia e a nulidade absoluta da matéria quando separada do princípio de vida que a faz existir” [27]. A representação de Hiran Abif saindo do túmulo e ressuscitando em corpo glorioso é a “Figura perfeita da ressurreição do homem em sua primeira forma incorruptível, para todos aqueles que terão deixado a carne e o sangue na tumba, em imitação e com a ajuda do homem Deus e divino” [28], o Cristo. Esta é a Iniciação Cristã e perfeita que só pode ser realizada pela ação salvífica e reparadora da encarnação e ressurreição de Cristo: “Esta transmutação da primeira forma do homem vos foi demonstrada pelo Divino Reparador universal, quando sua ressurreição, tendo se despojado na tumba de tudo o que pertence corporalmente ao velho homem, se manifestou diante dos olhos de seus discípulos em sua forma gloriosa individual, dando-se como modelo a todos aqueles que aspiram a voltar a seus direitos primitivos…” [29]. “Jesus Cristo deposita na tumba os elementos da matéria e ressuscita em uma forma gloriosa que não tem mais a aparência da matéria, que não conserva sequer os princípios elementares e que é apenas um envoltório imaterial do ser essencial que deseja manifestar sua ação espiritual e torná-la visível aos homens revestidos de matéria” [30]. Aqui está a verdadeira natureza da ressurreição gloriosa que Cristo apresenta ao homem, “revestindo-se de uma [forma gloriosa] após sua ressurreição, após ter destruído a outra [corporal e material] na tumba… ou seja, de uma forma perfeitamente semelhante e com as mesmas propriedades daquelas com as quais o homem estava revestido antes de sua prevaricação” [31]. Esta é uma das chaves mais importantes que a Doutrina Retificada coloca diante de seus Iniciados na terceira prancha do 4º Grau simbólico, sendo em si mesma a culminação do processo iniciático que leva à entrada triunfal na Jerusalém Celeste, e que, como Willermoz adverte, será difícil de assimilar para “esses homens carnais e materiais que só veem pelos olhos da matéria, e aqueles que são infelizes o suficiente para negar a espiritualidade de seu ser”, assim como aqueles que permanecem “ligados exclusivamente ao sentido literal das tradições religiosas...” [32].

Concluída a jornada na região terrestre e libertado de sua natureza carnal, o homem, que estava morto para Deus (Adhuc Stat!), ressuscitou em Deus, recuperando sua “feliz imortalidade” [33], o “último estágio de seu glorioso destino” [34]. Somente nesse estágio, os símbolos maçônicos e o Templo de Salomão (arquétipo ligado ao plano físico) desaparecem, pois já cumpriram sua função, e o Iniciado se encontra diante de um novo Templo que não pertence mais a este mundo: a Jerusalém Celeste, a nova Sião no topo da qual está o Cordeiro de Deus Triunfante, a culminação de nossos mistérios que nos conduzem à “plena compreensão e conhecimento perfeito do mistério de Deus, no qual estão ocultos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento” (Col, 2:2-3), à reintegração do homem renovado, do Novo Homem [35] no Cordeiro sacrificado e triunfante (triunfante porque é sacrificado).

Quisemos realizar aqui uma revisão rápida e concisa do que, para um Maçom Retificado, significa e implica a Iniciação Maçônica completa. Como mencionamos no início, tivemos a sorte de iniciar nosso trabalho maçônico a partir da Reforma introduzida por uma das mentes mais esclarecidas da história da Maçonaria, nosso Irmão J. B. Willermoz, para recuperar [36] o espírito mais puro da primitiva Iniciação Maçônica aprimorada pela ação reparadora de Cristo encarnado. Como emblema dessa Reforma, podemos considerar a palavra de reconhecimento na Loja de Aprendizes, Phaleg, cuja raiz Phal “significa escolha, separação, ao mesmo tempo que germinação…” [37]. Essa palavra, que substitui a palavra anterior Tubalcaín, rejeita completamente, em nosso Regime, a antiga tradição cainita [38] que persiste em outros ritos maçônicos. “O Livro do Gênesis, em seus capítulos 10 e 11, nos ensina que Phaleg era descendente de Sem, um dos três filhos de Noé que soube se preservar da influência perversa de Cam. Assim, o nome de Phaleg, substituindo felizmente o de Tubalcaín nos rituais retificados, nos indica claramente que a reforma lionesa quer se situar na descendência de Sem… Phaleg incorpora, portanto, como nos foi amplamente demonstrado por Jean-Baptiste Willermoz, enquanto fundador das Lojas Justas e Perfeitas, a verdadeira Tradição, a Iniciação santa e pura dos filhos de Deus que permaneceram na graça do Eterno.”[39] Willermoz separa assim a Iniciação cainita antediluviana da Iniciação noaquita pós-diluviana (aliança com Noé): “É após o dilúvio, na época da confusão das línguas, que encontramos a razão para a fundação de uma Iniciação secreta que deve ter se perpetuado e que é o objeto de busca dos Maçons… Um estudo da verdade feito com as mais puras intenções levou a aprender que é nos descendentes de Sem que devemos buscar a fundação da verdadeira Iniciação. Sem foi abençoado por Noé, e é crível que Phaleg, filho de Héber e descendente de Sem, que foi pai de todos os filhos de Héber, seja o fundador da única e verdadeira Iniciação, e esse motivo parece determinante para substituir o nome Tubalcaín pelo de Phaleg. Cam, amaldiçoado por Noé, terá tido sua Iniciação: tudo parece prová-lo, e sua palavra de reconhecimento teria sido Tubalcaín; é o emblema dos vícios e convém aos filhos de Canaã, que o teriam transmitido; mas devemos lembrar que foi dito: que Canaã seja amaldiçoado, que seja em relação a seus irmãos o servo dos servos.” [40] Essa Iniciação, restabelecida por Phaleg, sofrerá a dispersão de Babel, a nova Aliança com Abraão, a revelação da Lei a Moisés no Monte Sinai, a dedicação do Templo de Salomão e a subsequente reconstrução do Templo por Zorobabel que darão origem à Maçonaria Simbólica, e finalmente o restabelecimento da Iniciação perfeita com a encarnação do Verbo em Jesus Cristo. “É então claramente o Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, que restabelece o homem, operando sua reintegração em suas primeiras propriedades, virtudes e poderes espirituais divinos. A Iniciação age, portanto, por e em Cristo, e ninguém pode participar dela se não agir em nome e em unidade com esse Agente Reconciliador universal [41], pois o homem, ao ficar vinculado por sua escolha ao Mal, tornou-se incapaz de se aproximar do Bem por si mesmo, e permaneceria eternamente separado de seu Deus se o Amor infinito do Criador por sua criatura amada não tivesse destruído essa barreira de eterna separação por Sua encarnação em um corpo humano, do qual Ele quis se revestir para poder sofrer e morrer naquele corpo, e assim expiar pelo culpado tudo o que devia à Justiça.” Somente podemos ressuscitar para Deus através dessa ação reparadora de Cristo, sendo transformados e regenerados pelo fogo purificador do Espírito Santo. Assim, a Ordem é cristã, porque a Iniciação, conforme concebida por Willermoz, de acordo com a doutrina própria do R.E.R., não funciona e não pode funcionar de outra maneira.

Se compreendermos claramente o significado da Iniciação para o ser humano e a Sagrada História que a justifica, não teremos dificuldade, em termos gerais, de entender até onde ela pode ir em outros ritos ou Obediências. Na maioria desses ritos ou Obediências, geralmente se concebe a Iniciação Maçônica simbólica, na melhor das hipóteses, como um caminho de aperfeiçoamento moral sob a proteção de uma transcendência cujos limites são, na maioria dos casos, mais terrenos do que celestiais. Não consideraremos aqui desvios aberrantes para abordagens ateístas ou agnósticas. É evidente que isso nada tem a ver com a Iniciação tal como é entendida no R.E.R.. Pelo que pude constatar pessoalmente, na maioria das vezes, trabalha-se sem rumo, sem saber exatamente aonde se quer chegar, além do narcisismo metafísico-intelectual ao qual se tende. Sob a frágil luz dos símbolos sujeitos à relatividade mais selvagem (prova de sua degradação), tudo é válido e apenas a fraca razão humana estabelece limites. Longe de revelar ao homem sua origem primordial e instruí-lo sobre sua natureza atual e seu destino, esses ritos o introduzem em um labirinto sem saída que, às vezes, pode ser divertido, mas que acaba se tornando estéril no suposto despertar espiritual que alguns buscam. Como aspecto positivo, em geral, direi que, se isso contribuir para que as pessoas se tornem um pouco melhores, apesar de seu ceticismo, está tudo bem. No entanto, não podemos reconhecer isso como um verdadeiro processo iniciático, com toda a profundidade que esse conceito implica para o R.E.R..

Portanto, para que um maçom de outro rito se torne um Maçom Retificado, ele necessariamente precisa assumir compromissos mais exigentes que o predisponham a completar, um dia, a verdadeira Iniciação Maçônica que o Restaurador de Toda Ciência, Cristo, veio vivificar em seu centro, devolvendo-a à sua pureza original [42]. Somente dessa forma poderemos compartilhar a mesma luz no mesmo Templo como “Maçons! Filhos de um mesmo Deus! Reunidos por uma crença comum em nosso Divino Salvador![43]”

Notas:

[1] Rito Escocês Retificado, Loja J. y P. Cavaleiros da Rosa (www.cavaleirosdarosa.org), Oriente de Madrid.

[2] Em: Var, Jean-François, “Jean-Baptiste Willermoz, sua obra”, apresentação de Guy Verval, Cahier Geoffroy de Saint-Omer, edição especial, publicado pela R. L. Geoffroy de Saint-Omer, G.L.R.B., 1992, p. 43 (abreviado como: JBW).

[3] Obra citada (ob. cit), p. 44.

[4] Obra citada (ob. cit), p. 49.

[5] Instrução Secreta dos Grandes Professos (abreviado en IS) IX, 36.

[6] Ritual de Mestre Escocês de Santo André.

[7] J.-B. W., p. 51.

[8] A Iniciação e Cristo: Reflexões sobre a Iniciação Cristã, a Iniciação Maçônica e a Iniciação Maçônica Cristã, 2008, Jean-F. Var.

[9] Idem.

[10] O Homem Deus, Tratado das Duas Naturezas; Willermoz. Capítulo 19: Do homem caído e do sacrifício de sua vontade. Publicado em português por Manakel, coleção Martinismo, na obra Instruções Cohen.

[11] Ritual de Mestre Escocês de São André: “O terceiro grau, ao apresentar-vos um cadáver figurado, lembra-vos o fim do homem físico e de todas as coisas temporais, assim como o primeiro grau vos anunciou o começo e o segundo sua duração.”

[12] Ritual de Mestre Escocês de São André.

[13] Idem.

[14] Igualmente, em relação aos cinco pontos deste toque: “Lembram aos Maçons a sinceridade, a cordialidade, a união íntima que deve reinar entre eles e a obrigação de socorrer-se mutuamente, com todas as suas forças”. Instrução por perguntas e respostas para o grau de Mestre. Ritual do Grau de Mestre Maçom do RER.

[15] Instrução moral e explicação do Grau de Mestre no Ritual de Mestre Escocês de São André.

[16] Ritual de Mestre Maçom do R.E.R., cap. XXIII.

[17] Explicação dos três primeiros graus. Ritual de Mestre Escocês de Santo André.

[18] Idem.

[19] O Novo Homem, 13, Louis-Claude de Saint-Martin.

[20] Idem.

[21] Ritual de Mestre Escocês de Santo André.

[22] Idem.

[23] Ritual de Mestre Maçom do RER, Terceira Viagem.

[24] IS II 48-49. Citado por Jean F. Var em seu trabalho “O Esoterismo Cristão e o R.E.R”

[25] As Noites de São Petersburgo, Joseph de Maistre. Ed. Espasa Calpe – Coleção Austral, Madrid, 1.998. Pág. 65.

[26] Idem., pág. 64.

[27] Explicação dos três primeiros graus. Ritual de Mestre Escocês de Santo André.

[28] Instrução Secreta citada por Jean-Marc Vivenza em sua obra “O Martinismo”.

[29] Idem.

[30] O Homem Deus, Tratado das duas naturezas; Willermoz. Capítulo 18: Da ressurreição e dos corpos gloriosos. Publicado em espanhol por Manakel, Coleção Martinismo, na obra Instruções Cohen.

[31] Idem.

[32] Idem.

[33] Ritual de Mestre Escocês de Santo André.

[34] Idem.

[35] Este Homem Novo “levará sobre a testa o nome do Cordeiro” (Ap. 22:4), o qual é a Glória do Eterno (Ap. 21:

[36] Conventos das Galias de 1.778 y de Wilhelmsbad de 1.782.

[37] René Guenon e Regime Escocês Retificado. Jean Marc Vivenza, Ed. Mankel, Madrid.

[38] N.T.: A palavra “cainita” refere-se a descendentes ou seguidores de Caim, personagem bíblico que cometeu o primeiro assassinato ao matar seu irmão Abel. Na tradição cristã, os cainitas são associados a uma linhagem marcada pelo pecado e pela maldição. No contexto do texto, o termo é utilizado para contrastar com a iniciativa retificada que busca se alinhar à descendência de Sem, associada a uma tradição mais pura e santa. “Noaquita” refere-se a algo relacionado a Noé ou à sua descendência. Na tradição bíblica, Noé foi o patriarca escolhido por Deus para construir a arca e salvar sua família e diversos animais de um dilúvio que inundaria a Terra.

[39] Explicação de Willermoz registrado nas Atas da Sessão do Diretório Provincial de Auvergne, em Lyon, em 5 de março de 1785. Citado por Jean-Marc Vivenza em sua obra René Guenon e o Regime Escocês Retificado, Ed. Manakel, Madrid.

[40] A Iniciação e Cristo: Considerações sobre a Iniciação Cristã, a Iniciação Maçônica e a Iniciação Maçônica Cristã. Jean F. Var, 2.008.

[41] O Homem Deus, Tratado das duas naturezas; Willermoz. Capítulo 19: Do homem caído e do sacrifício de sua vontade. Publicado em espanhol por Manakel, Coleção Martinismo, na obra Instruções Cohen.

[42] “O Templo foi destruído até seus alicerces, e os judeus, dispersos por toda a terra, vieram sofrer diante das nações a pena de sua extrema cegueira, pois tinham ignorado o Restaurador universal de toda ciência, que veio vivificá-la no Centro e devolvê-la à sua pureza original, para que, a partir dali, se espalhasse por toda parte e sobre todos.” – Citado por Jean F. Var em seu trabalho: “A Iniciação e Cristo. Apreciações sobre a Iniciação cristã, a iniciação maçônica e a iniciação maçônica cristã.” (2008).

[43] Artigo 1º da Regra Maçônica para uso das Lojas Reunidas e Retificadas.