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Oração e Caridade nº 22

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A DISCIPLINA INICIÁTICA DO ABANDONO MÍSTICO DA ALMA À DIVINDADE

Le Phénix Renaissant, n° 5, 2019, pp. 90-91. “A Ciência do Homem” Esclarecimentos sobre a dupla natureza.

A imitação de Jesus Cristo, a quem devemos nos conformar e acomodar nossas vidas, uma regra, que facilmente poderia ser designada como um “princípio”, deve converter-se na disciplina sagrada do ser criado, do “menor espiritual” em sua ascensão para as regiões celestes, isto é, “desapropriar-se” de sua vontade e, pelo desprendimento consentido do tempo e da duração temporal, a indiferença aos termos e condições de sua existência, a distância diante das circunstâncias e eventos – conservando, na medida do possível, uma idêntica e igual quietude em qualquer circunstância -, disposições acompanhadas pelo abandono absoluto de sua vontade própria como sacrifício de expiação, entrando, completa e plenamente, na obra de união indissolúvel e absoluta com o Ser eterno e infinito “que é a bondade, a justiça e a própria Verdade”.

A vía iniciático, que – e igualmente uma “vía metafísico” de conhecimento ontológico, e dos mistérios de nossa dupla natureza, que foi compartilhada pelo Divino Reparador no momento de sua vinda a este mundo e durante a duração de seu ministério terrenal, é o caminho real de comunhão interior e participação, por contemplação, nos mistérios do Divino Infinito.

Em diferentes lugares, e em numerosas ocasiões em vários de seus textos, Jean-Baptiste Willermoz insistiu energicamente nesta mesma lei que já havia operado, e que operará até a consumação dos séculos, a santificação libertadora das criaturas desde a geração de Adão, e que consiste no sacrifício e no abandono de sua própria vontade e na entrega segura de seu espírito à Deus:

“É sempre pela mesma Lei que se opera a santificação da universalidade dos seres emanados. Só será pelo sacrifício voluntário do livre arbítrio, pelo abandono absoluto da vontade pópria e pela aceitação desse abandono por parte de Deus, que poderá efetuar-se a sua união indissolúvel com aquele que opera a sua santificação. Olhemos para o homem e consideremos o caminho que lhe é assim traçado para a sua reabilitação, tanto para ele como para a sua posteridade, ali encontraremos um novo sujeito para reconhecer a imutabilidade da Lei divina segundo a qual se produz a santificação dos seres espirituais… [1]”

Como exemplo alegórico, relacionado com a divisa do Grau de Mestre Maçom do Rito Escocês Retificado, deste santo abandono à Providência, recorremos a um trecho da lenda de São Brandão [2]:

“Eles começaram a avançar a toda vela por volta do meio-dia. O vento era bom e não precisavam remar, mas apenas manobrar o cordame para manter as velas infladas.

 

Depois de quinze dias, o vento parou e eles começaram a remar o máximo que puderam, até que a fadiga ficou muito forte. Então São Brandão começou a confortá-los e disse: “Queridos irmãos, não temais resignar-vos a vossa sorte e não perdeis o ânimo; já que Deus é nossa ajuda, nosso navegador e nosso piloto. Peguem os remos e deixem o timão, mantendo apenas as velas estendidas, e que Deus faça o que quiser com seus servidores e seu navio”.

 

Até o momento da véspera, não havia havido nenhum sinal de vento; pouco depois, as velas eram infladas de vez em quando, mas os homens não sabiam de onde vinha o vento, para onde ia e para que regiões se arrastava seu destino. Quando tinha passado quarenta dias e eles haviam consumido toda a sua comida, apareceu uma ilha na parte setentrional…”

 

Notas
[1] J.B. Willermoz, 6º caderrno (1795-1805), adicionado em 1818, Renaissance Traditionnelle, n° 80, outubro de 1989.
[2] São Brandán, o Navegador (Ciarraight Luachra, Irlanda, c. 484 – Enachduin, c. 578; em irlandês Breandán), também chamado de Barandán, Borondón ou Borombón (frequentemente “Samborondón” ou “Samborombón”), foi um dos os grandes monges evangelizadores irlandeses do século VI. Abade do mosteiro de Clonfert (Galway, Irlanda) que fundou em 558 ou 564, foi o protagonista de uma das mais famosas histórias de viagens medievais da cultura gaélica medieval, relatada no Navigatio Sancti Brendani, obra que foi escrita em torno aos séculos 10 e 11.