Constituição do “Grande Diretório das Gálias”, durante a Sessão da Prefeitura de Genebra em 23 de março de 1935 em Neuilly-sur-Seine, Paris, em J. Baylot, Histoire du Rite Écossais Rectifié de France au XXe siècle, Collection historique, Grande Chancellerie de l’Ordre, 1976, p. 71.
Carta Constitutiva e Cartas patentes para o despertar do Regime Escocês Retificado na França, sub a Obediência do Grande Diretório das Gálias.
(Grande Priorado Independente de Helvétia, 20 e 23 de março de 1935)
Assinatura do Tratado de Reconhecimento e Amizade entre o Diretório Nacional Retificado da França – Grande Diretório das Gálias e o Grande Priorado Retificado de Hispania, em 14 de dezembro de 2014 em Lyon, França.
80º ANIVERSÁRIO DO “DESPERTAR” DO REGIME ESCOCÊS RETIFICADO NA FRANÇA (1935 – 2015)
No ano de 2015 é celebrado um importante aniversário, o do “despertar” do Regime Escocês Retificado na França, e a constituição, para organizar a via iniciática e administrar seu funcionamento, do Grande Diretório das Gálias.
Assim nos apresenta a ocasião de recordarmos as razões de tal iniciativa da parte de Camille Savoire (1869-1951), e de compreendermos a perspectiva de março de 1935 e que permanece idêntica em 2015, onde as mesmas causas que impulsionaram na época de Camille Savoire para retirar o Regime do sistema obediencial permanecem absolutamente vigentes.
Com efeito, vendo que era impossível estabelecer uma prática autêntica do Regime Escocês Retificado no interior de formas obedienciais, que o submetiam a um marco de critérios administrativos, políticos e ideológicos que lhe são estranhos, Camille Savoire, percebendo que em razão de sua essência e de sua natureza organizativa, este sistema maçônico e cavaleiresco elaborado no séc. XVIII por Jean-Baptiste Willermoz (1730-1824), devia, para respeitar sua essência fundacional, ser vivido fora de estruturas maçônicas multi-rituais andersonianas, decidiu-se realizar em março de 1935, com a ajuda do Grande Priorado Independente de Helvétia (G.P.I.H.), último a conservar neste período esta transmissão, o despertar completo do Regime Escocês Retificado na França, reconstituindo nos dias 20 e 23 de março de 1935 em Paris o “Grande Diretório das Gálias”, que alojaria após o Convento das Gálias (1778) as três Províncias francesas da Ordem (IIª de Auvernia, IIIª de Occitania e Vª de Borgonha).
Assim, em 23 de março de 1935, seria realizada em Paris a Sessão histórica da Prefeitura de Genebra, presidida por Ernest Rochat, Grão-Prior do G.P.I.H., que antes se encarregou de denunciar o tratado de 1911 firmado com o Grande Oriente da França (G.O.D.F.), e instalou a Prefeitura de Neustrie outorgando uma Patente oficial para Camille Savoire concedendo-lhe, como Grão-Prior do Grande Diretório das Gálias, toda autoridade para criar na França estabelecimentos do Rito Escocês Retificado. [1]
Em seu discurso histórico, Camille Savoire ressaltou que o G.O.D.F. se oporia a prática autêntica do Regime Escocês Retificado e que o Grande Diretório das Gálias constituiria assim, para responder as exigências willermozianas, uma Ordem autônoma e independente, composta de membros “desejosos de afastar-se das Obediências francesas cujas artimanhas estavam em contradição com o caráter da franco-maçonaria”. [2]
A Patente expedida estipulava que: “O Grande Priorado de Helvétia, segundo as prerrogativas próprias de sua função, tem reconhecido expressamente o Grande Diretório das Gálias, como Potência regular, autônoma e independente do Regime Escocês Retificado na França, com os mais amplos poderes para criar neste país Prefeituras, Comendadorias, Lojas de Santo André e eventualmente qualquer Loja Simbólica do Rito Retificado sub sua Obediência, e proclama na pessoa do Mui Rev. Cav. Benfeitor da Cidade Santa, doutor Camille Savoire, in ordine eques a Fortitudine, o primeiro Grão-Prior, Grão-Mestre Nacional”. [3]
Quatro meses mais tarde, depois da constituição do Grande Diretório das Gálias, um Tratado de Aliança e Amizade foi concluído com o Grande Priorado de Helvétia, em 05 de julho de 1935, em Genebra e no dia 25 do mesmo mês em Paris, sendo este “por um período indeterminado”, reconhecendo-se as duas Potências maçônicas como “únicas Potências Soberanas do Regime Escocês Retificado em seus respectivos países, a saber: o Grande Diretório das Gálias para a França, e o Grande Priorado Independente de Helvétia para a Suíça, admitindo como Lojas Regulares do Regime Retificado somente aqueles constituídos na França pelo Grande Diretório das Gálias e na Suíça apenas aqueles que dependem diretamente do Grande Priorado Independente de Helvétia”. [4]
Finalmente, objetivando poder trabalhar o Rito, em 24 de outubro de 1935, em virtude dos acordos concluídos entre o Grande Diretório das Gálias e o Grande Priorado Independente de Helvétia, retomando os termos da Carta Patente do despertar do Regime de 20 de março de 1935, e “considerando que é desejável, em interesse da Ordem Maçônica em geral e do Regime Escocês Retificado em particular, manter e reafirmar as relações cordiais e fraternais que unem o Grande Diretório das Gálias e o Grande Priorado Independente de Helvétia” [5], Camille Savoire, enquanto Grão-Mestre e Grão-Prior do Grande Diretório das Gálias, cria oficialmente a Grande Loja do Regime Retificado da França, sendo seu Grão-Mestre o Ir. René Wibaux (1887-1959). [6]
A Grande Loja do Regime Retificado da França não foi, como evidentemente era de se esperar, reconhecida pelas Obediências maçônicas francesas, e de fato não firmou com nenhuma delas nenhum Tratado de Reconhecimento. Mas seu objetivo era, e consistia antes de tudo em permitir uma prática do Regime fiel a seus princípios fundacionais, desvinculando-se de estruturas administrativas profanas que, pouco a pouco, haviam deteriorado a Franco-Maçonaria Retificada de sua perspectiva iniciática e espiritual.
Assim, apesar de a dura batalha que devia realizar para voltar à cena da história do projeto willermoziano, Camille Savoire, admirável em convicção e tenacidade, persuadido de que o sistema decretado durante o Convento das Gálias em 1778 e retificado em 1782 em Wilhelmsbad, só deve e pode, por sua originalidade organizativa, sua concepção hierárquica cavaleiresca e sua especificidade iniciática e doutrinal, viver fora de estruturas maçônicas que não possuem nenhuma qualificação iniciática ante o Regime Retificado, busca estabelecer, apesar de todos os obstáculos, o mais valioso de tudo: a independência absoluta da Ordem.
Camille Savoire mantém-se fiel a sua visão até a data de sua morte em Paris, em 05 de abril de 1951, e deixa a seus sucessores prosseguir com a obra empreendida.
Seria prolongar-se reconstruir a história das renúncias ocorridas ao longo de 80 anos que tem distanciado, lamentavelmente, pouco a pouco, o projeto de 1935 de seus objetivos. Apontamos simplesmente que ao intitulado “Grande Diretório das Gálias” lhe foi conferida em 1946 uma existência legal sob uma denominação que havia sido, com efeito, utilizada em alguma ocasião antes da guerra sob a variante “Grande Priorado Independente das Gálias”, mas que, no entanto, não figurava nestes termos na “Carta Constitutiva e Cartas Patentes” de março de 1935 expedidas pelo Grande Priorado Independente de Helvétia, instância nova criada que se dá a conhecer sob o nome de “Grande Priorado das Gálias”. [7]
É por isso que, sabendo-se que o “Grande Diretório das Gálias” foi adormecido em setembro de 1939, e que a instância que o sucede em 1946 não deixa, ao longo das décadas, de afastar-se cada vez mais dos critérios originais da Ordem, a decisão do “Despertar” foi tomada em 15 de dezembro de 2012 em Lyon a fim de retomar fielmente os princípios que foram decretados e estipulados em 1935. Este despertar é acompanhado da transmissão da Carta do Grão-Mestrado emitida por Camille Savoire, garantindo do ponto de vista dos critérios retificados a transmissão intuitu personae de Grão-Mestre para Grão-Mestre, desde Camille Savoire, transmissão efetuada entre o antigo Grão-Mestre do G.P.D.G., Marcus, i.O. Eq. ab Insula Alba (renunciou do G.P.D.G. em 26 de setembro de 2009 tendo se recusado instalar o novo Grão-Mestre eleito, e que poderia transmitir seu cargo em razão desta recusa), e Johannes-Marcus, i.O. Eq. A Crucis Mysterio, durante a cerimônia do “Despertar” do Grande Diretório das Gálias em 15 de dezembro de 2012, cerimônia de transmissão que tem valor legítimo – princípio evidente conhecido no plano iniciático – uma vez que a substância da transmissão dentro do Regime Retificado não depende de uma “propriedade de estrutura”, mas estabelece-se sobre a base de posse pessoal de títulos e qualificações que participam de uma natureza não-institucional.
Desta forma, acreditamos ser necessário neste ano de 2015, que corresponde ao 80º aniversário do retorno do Regime Retificado na França, aclamar e celebrar como merece a inciativa que teve início em março de 1935, ao mesmo tempo que recordamos as bases sobre as quais Camille Savoire desejou o “Despertar” da Ordem, bases que repousam sobre os critérios especificados pela “Carta Constitutiva” que presidiu a fundação do Grande Diretório das Gálias, e que em essência são os de “Praticar o Rito Escocês Retificado em conformidade com os estatutos da Ordem tal como estão em uso na Suíça, e especialmente manter em sua integridade as decisões decretadas nos diversos Conventos de Kohlo em 1772, de Wilhemsbad em 1782 e das Gálias em 1778”. [8]
É, pois, neste “espírito”, e por fidelidade a conformidade das decisões resultantes de seus Conventos históricos, que a Ordem pode, pela “Refundação” que acaba de ser operada em Lyon em 15 de dezembro de 2012, olhar de novo o futuro com esperança, e celebrar dignamente o atual 80ª aniversário do “Despertar” da “Fênix Ressurgente”, ou seja, segundo a expressão de Jean-Baptiste Willermoz: “O renascimento da Ordem, voltando a suas leis primitivas…” (J.-B. Willermoz, 1809, ms 5922/2 BM de Lyon).
A este novo e esperançoso “Despertar” da Ordem Retificada, se uniu também o Grande Priorado Retificado de Hispania, formalizando um Tratado de Reconhecimento e Amizade com o Diretório Nacional Retificado da França – Grande Diretório das Gálias, em 14 de dezembro de 2014 em Lyon, durante a Loja solene da Grande Loja Escocesa, reafirmando solenemente o compromisso indefectível para o reconhecimento, a defesa e a conservação do Regime Escocês Retificado em sua especificidade organizativa, estrutural e doutrinal, a fim de que sua essência não seja alterado pelo tempo, e declarando sua vontade de promover o referido Regime Retificado conservando em todo momento a fidelidade íntegra a seus Princípios Fundacionais promulgados no Código Maçônico das Lojas Reunidas & Retificadas da França e no Código Geral dos Regulamentos dos Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa, tal como foram aprovados pelos Deputados dos Diretórios no Convento Nacional de Lyon em 1778.
Com a ocasião do 80º aniversário do “Despertar” do Regime Escocês Retificado, foi reeditado, acompanhado de um Prefácio de apresentação escrito por Jean-Marc Vivenza, a obra publicada por Camille Savoire em 1935:
Notas: 1. Participaram desta Sessão: Savoire, Grão-Prior/Grão-Mestre nacional; Machon, Grande Chanceler; Wibaux, Wachmar, Devaux, Corbin, Charrière y Édouard de Ribaucourt; 2. C. Savoire, Pourquoi avons-nous réveillé le Rite Rectifié en France? (Porque despertamos o Rito Retificado na França?), in C. Savoire, Regards sur les Temples de la Franc-maçonnerie, 1935, re-edición La Pierre Philosophale, 2015. Savoire diz: “Aqui está como despertamos regularmente na França o Rito Retificado: este despertar se fez de acordo e com a colaboração da única Potência que detinha a autoridade suprema sobre o Rito no mundo e em conformidade com as decisões dos diversos Conventos de 1778, 1782, 1808 e 1811, e executando a decisão tomada em 1828 pelo Diretório da 5º Província de Neustrie, delegando a última de suas Prefeituras, dita de Zurich, seus arquivos, prerrogativas, direitos, etc., com a missão de os conservar até o dia em que o despertar do Retificado pudesse efetuar-se na frança e permitiria recuperá-los”; 3. Cf. G.P.I.H., Carta-Patente constitutiva do Grande Diretório das Gálias, 23 de março de 1935; 4. Cf. Tratado de Aliança e de Amizade entre o Grande Diretório das Gálias e o Grande Priorado de Helvétia, 25 de Julho de 1935; 5. Em seu ponto 2, o Tratado insistia no fato de que devia ser observado uma completa lealdade aos graus, formas, cerimônias, tradições e rituais do Regime: “Os Altos Graus do Regime Escocês Retificado consistem na Loja de Santo André e na Ordem Interior (Escudeiros Noviços e Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa). As duas Potências contratantes estão de acordo em conservar as formas, cerimônias, tradições, lendas e instruções dos diferentes graus do Rito” (Tratado de Aliança e Amizade entre o Grande Diretório das Gálias e o Grande Priorado de Helvétia, 25 de julho de 1935); 6. Esta Grande Loja estava constituída em primeiro lugar por quatro Lojas simbólicas: La Morinie, em Touquet; Les Philadelphes, em Lille; Les Templiers, em Paris, e Les Amis Bienfaisants, em Rouen. Mais tarde se constituíram outras quatro Lojas: Justice et Fraternité, em Calais; La Tradition Écossaise, em Bordeaux; Côte d’Azur, em Nice e Tradition, em Paris. 7. Este nome registrado legalmente em 1946, evidentemente não existe na matrícula do Convento das Gálias de 1778, já que a expressão “Gálias” designa a França sob domínio romano antigo (latim Gallia), englobando as três províncias da Ordem (IIª Auvernia, IIIª Occitania, Vª Borgoña), mas não está ligado a nenhum Grande Priorado levando o nome de “das Gálias” (sic), que poderá se buscar em vão esta matrícula das três Províncias francesas, decretada no Convento nacional realizada em Lyon em 1778 – estabelecida durante a 2ª Sessão do Convento das Gálias em 27 de Novembro de 1778 (Cf. MS 5.482, BM de Lyon). É, portanto, esta instância de nova criação, ao menos no plano terminológico in abstracto em 1946, a que por uma “Convenção” fechada em 13 de junho de 1958 foi integrada na grande Loja Nacional Francesa (G.L.N.F.) até junho de 2000; 8. Cf. G.P.I.H., Carta Patente constitutiva Cartas Patentes, 23 de março de 1935.
Parabéns pelo aniversário belos textos